Especulações livres

23 de ago. de 2007

I love Disco...

E pronto, adoro essa musica... Nada de mais para postar, so precisando dancar um pouco mesmo, a vida anda monotona.

9 de ago. de 2007

Imagens nao morrem

Clique no link e veja o trailer do ultimo do Mojica:



Tenho que dizer que fiquei impressionado. Tudo bem, nao sou confiavel, sou fa demais, talvez esteja querendo ver um grande filme onde nao existe um. Achei o trailer fantastico. Primeiro, por que finalmente Mojica fez um novo filme. Segundo, por que me parece que realmente esse filme pode chegar perto das obras-primas dos anos 1960. O trailer e filosofico, metalinguistico, brincando com a historia pessoal do Mojica, como em Despertar da Besta. Enfim, e apenas um trailer, mas mal posso esperar pelo filme...

4 de ago. de 2007

Algo de podre em Pindorama

Parece que o Youtube torna-se, cada vez mais, num mecanismo de perturbacao da ordem vigente, numa especie de praca publica barulhenta e caotica, onde as aliancas, mediacoes e censuras da antiga praca publica, a midia televisiva e jornalistica, nao se aplicam. Ou seja, o equilibrio que se ve nas outras midias, que no Brasil baseia-se numa ilusao de liberdade de imprensa que esconde um elitismo e governismo endemicos, nao conseguiu ainda implantar-se na internet de forma duradoura. Por essas e outras, ao redor do mundo, o Youtube causa comocao ao tornar publico e visivel aquilo que deveria, pelo bem do teatro social, permanecer invisivel.





Ironico que, ao mesmo tempo em que nasce a campanha do Cansei (que conheco apenas pela midia eletronica, ja que nao estou no Brasil), vemos essa mesma "elite" jogar um ovo podre pra cima, o qual inevitavelmente acertou-lhe a fuca: em questao, o video "ovos em Copacabana". O interessante desse video e a inocencia e "naivete" dos personagens envolvidos. A composicao do video remete ao que ha de mais canonico nesse tipo de video: uma festa bastante informal, pessoas descontraidas mostrando seu lado mais intimo, uma camera com visao noturna indicando uma intimidade relacionada a um certo "proibido" (pelo menos desde a multiplicacao dos videos de sexo pela internet), uma falta de censura que poderia ser relacionada ao proprio meio. Como disse acima, o Youtube, e a internet em geral, ainda nao adquiriu maturidade e legitimidade social como outros meios de comunicacao, e muito do que vemos no site tem a ver com o olhar furtivo e voyeuristico de cameras minusculas que mostram aquilo que as pessoas fazem "no escuro", "por debaixo do pano", longe das censuras sociais e das convencoes.
Por isso mesmo, ao me deparar com os protagonistas do video, dois jovens loiros e aparentemente abastados, jogando ovos pela janela, tentando acertar carros, transeuntes e ate a policia, temos ai uma expressao bastante clara daquilo que no Brasil e o nosso ethos imperial/hierarquico recalcado: A elite tudo pode: por ser elite, esta acima do bem e do mal; apesar de todo o decoro que demonstra nos rituais publicos, perde-o rapidamente em seus rituais privados. A mesma elite "cansada" de corrupcao e falta de etica exibe tranquilamente, dentro de seus apartamentos e festas exclusivas, toda a falta de etica que critica em publico. Esta cansada de traficante mandando no morro, mas nao hesita em demonstrar o dominio sobre o seu proprio feudo, Copacabana e adjacencias. Esta cansada de corrupcao, mas joga ovos na policia, demonstrando ao mesmo tempo o desrespeito pela lei e ordem e o total desprezo pelas instituicoes que a protegem. Esta cansada da falta etica, mas e incapaz de esconder o preconceito com as simbolicas "vagabundas" (Geni!) e outros grupos sociais desfavorecidos, que por serem despreziveis podem e devem ser alvos de brincadeiras esdruxulas e humilhantes. Protegida pela condicao de ser elite, certa parcela dessa populacao se sente no direito de ter tudo e de nao dever nada a ninguem. Depois nao entende o porque de deputados, exibindo a mesma falta de etica e decoro, sao incapazes de fingir que trabalham, nem diante de cameras de televisao. O video dos ovos no Rio me faz lembrar Marie Antoinette, brincando de ser camponesa em meio a pobreza e desespero. Incapaz de perceber seu momento historico, legou aos anais da historia a sua frase "que comam brioches". Na sua inocencia, tornou publico o lugar nefasto que a elite francesa da epoca ocupava. Nos dias de hoje, tais frases rapidamente espalham-se pela internet, a meu ver com o mesmo efeito. Mas no caso do Brasil, nao sei se chegaremos algum dia a fazer algo a respeito, alem de execrar essa parte podre da elite em textos de blogs e jornais.






A crescente perplexidade da populacao com essa falta de decoro, que elege o Parlamento (sic) como instituicao-simbolo do desprezo pelos reais problemas da sociedade, do elitismo e da malandragem, de novo demonstra a dificuldade da cultura brasileira de digerir a democracia. Nostalgicos do Imperio e do governo militar, muita gente ainda associa a ideia de democracia a baderna, e a figura do deputado com incompetencia. E parece que a nossa "elite" (sic) faz de tudo para provar essas pessoas que elas estao corretas. Minha decepcao com a esquerda e a de que, cumprindo uma certa necessidade historica, provaram ser capazes de mobilizar a populacao em torno de um candidato que seria, a principio, um "outsider" nessa ordem. Lula, mais do que um candidato "do povo" ou "proletario", seria o simbolo-indicio de que a democracia poderia criar raizes, de que a alternancia do poder poderia funcionar ordenadamente, e de que outras elites poderiam levar a cabo mudancas, contra o proprio sistema, a favor da populacao. A crescente adaptacao da esquerda no poder ao esquema vigente demonstra a incapacidade dessa esquerda de perceber essa janela historica. Indica a eterna solucao brasileira para evitar a mitologica revolucao: o sistema sobrevive apesar de tudo, dentro ou fora da democracia, e as desigualdades sao protegidas acima de qualquer outro principio. A permanencia da desigualdade no Brasil e um caso tao importante quanto pouco estudado e compreendido na historia social e politica do planeta.

Ao deixar-se levar pelas maracutaias do sistema, ao adaptar-se em demasia, a esquerda atual comprova os velhos preconceitos de que pobre, quando come mel, se lambuza. Deriva-se dai a ideia de que o "povo" (outro mito permanente) deveria mesmo permanecer no seu lugar, ao inves de tentar governar a si proprio. Lembro-se daquele grande "heroi" (SIC) da etica na politica, o Sr. Roberto Jefferson, chamando os petistas de "ratos magros". Poucas vezes o circo de horrores que e a elite politico-economica do pais ficou mais evidente do que durante os primeiros momentos do escandalo do Mensalao. Que nada aconteceu a ninguem, a nao ser uma cassassao simbolica de alguns personagens chaves, demonstra a infinita capacidade do sistema politico brasileiro em reproduzir-se e manter a sua coerencia, mesmo na pior das adversidades. Demonstra tambem a "cordialidade" da populacao, que nao tomou as ruas.

Sinto de longe uma certa radicalizacao da politica no Brasil, especialmente desde o desastre da TAM. Pessoas com um minimo de interesse na historia do pais comecam a sentir um certo cheiro de "golpismo", expresso em campanhas como a do "cansei". Ainda que seja diferente da Marcha pela Familia, Tradicao e Propriedade, a ideia da elite cansada da "baderna" e que resolve tomar o poder para "arrumar a casa" e recorrente na nossa historia politica. O que me irrita e a incapacidade da esquerda de pensar sobre isso e buscar meios de se projetar para a populacao como diferentes da elite tradicional. Nao sei se isso se deve aos nossos preconceitos inatos contra a esquerda, ou se e incompetencia do governo mesmo. Mas a partidarizacao do debate sobre o desastre da TAM, para mim, demonstra um pessimo sinal. Explicita que a briga desesperada pelo poder sobrepoe-se a criterios minimos de boa governanca, etica, decoro e competencia. Se a atmosfera e de vale-tudo, nao penso que sairemos dessa por um caminho positivo. Fica aqui a minha indignacao e, para ser direto, medo mesmo.

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