Especulações livres

14 de nov. de 2008

Mico


Mico, eu pensava, era o que rolava com os outros. Eu sempre fui imune, na minha fantasia. Imagina eu bancar o idiota desse jeito! Imagina eu, cair na conversa de alguém! Imagina eu, cair numa cilada tão óbvia! Daí, de tanto falar dos outros, você cai. E se vê fazendo tudo errado, igualzinho a todo mundo. Nada grave, mas mico é mico. E não perdoa. Você acaba passando pelo ritual completo e, mesmo dias depois, continua fazendo merda, sob o pretexto de conversar. Depois de pensar um pouco, você percebe que, sim, envelheceu, para o bem e para o mau. Para o bem, pois é mais ponderado, mais experiente e acumula menos gordura pelo corpo; para o mau, pois a barriga só cresce, o cabelo só cai e todo mundo no bar tem 10 anos a menos do que você. Ainda incerto sobre seu novo papel nesse jogo todo (pois só trabalha e evita as pessoas), acaba pagando os micos que tanto criticou nos outros quando você era o carinha de 18 (ou 23) anos, achando aquilo tudo muito emocionante. O lado interessante dessa história é que você acaba entendendo coisas que, na época, te pareciam impenetráveis. Pequenas babaquices que te irritavam nos outros e que, agora, são parte da sua própria natureza. Um pouco triste, mas um pouco de alívio. Alívio sim: pois percebe que não passa de um ser humano, tateando pelo mundo de forma tão cega quanto os que vieram antes, e provavelmente como os que virão depois. E tenta se perdoar no meio disso tudo...

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