Especulações livres

1 de jul. de 2010

O prazer da dúvida


Uma das coisas que sempre me deu uma sensação de segurança a respeito de quem eu era, ou seja, de que eu era eu mesmo, e não outra coisa, e não uma massa desconexa vagando pelo universo, era um pequeno conjunto de certezas que eu carregava (carrego?) comigo desde muito cedo, desde a infância. Não me pergunte desde quando: não tenho boa memória, e algumas dessas certezas emanaram de mim em tempos imemoriais. Quem sabe afinal o que acontece com a nossa cabeça aos 2, 3 anos de idade? Memórias esparsas... Bom, desde que me entendo por gente, um pouco mais adulto, lá pelos 17, venho perdendo muitas dessas certezas. Algumas eu deixei que caíssem da minha mão, pois me tolhiam. Essas, uma vez que sumiam, davam lugar a outras, mais duras e sólidas ainda. Com o passar dos anos, algumas das minhas certezas mais ferrenhas foram se despedaçando. Isso sempre me surpreendeu: a capacidade de coisas aparentemente muito sólidas de se desmancharem com o tempo. Nesse movimento, uma das poucas coisas que permanecem constantes é a incerteza. Mas tenha calma, amigável leitor: não estou aqui fazendo mais uma crônica da meia idade, na qual conseguimos lidar com a incerteza e deixar a vida fluir. Quisera eu conseguir deixar a vida fluir! E quanta pretensão...! A vida flui, independente da minha vontade. Como uma correnteza. Talvez como uma enchente, que periodicamente destrói aquelas casinhas, praças, ruas e outras coisas que construimos para dar sentido ao nosso mundo. Há uma dor associada com isso, como não é difícil de se imaginar. E talvez a coisa boa disso tudo (olha eu tentando construir mais uma casinha ali, no meio do caos) é a possibilidade de recomeçar, que constantemente se coloca. Nunca tive medo de recomeçar do zero, acho eu, e espero não perder essa coragem, mesmo com o peso do tempo.

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