Especulações livres
29 de set. de 2006
Rupturas
26 de set. de 2006
19 de set. de 2006
Trash 80's
...e tem também a parte 2, ainda mais hilária:
5 de set. de 2006
Fluxos
Acabei de ver, hoje ao acordar, o vídeo acima. Engraçado como alguns gêneros começam a se fixar no Youtube. Dentre os mais interessantes, ressalto esse, o "everyday": as pessoas tiram fotos de si mesmas todo dia, no decorrer de alguns anos, e criam um vídeo a partir da sucessão das imagens. Geralmente, a trilha é bem forte, sentimental, um tanto etérea, reflexiva. A partir desse vídeo, comecei a pensar em alguns elementos que me "pegaram", que me tocaram. Por exemplo, o contraste entre a continuidade (dos olhos, do rosto, da boca) e o fluxo estonteante de locações, iluminação, posições que transcorre em segundo plano. A sucessão rápida das fotografias cria, de fato, uma imagem de um "fluxo da vida": somos levados a sonhar o desenrolar de um pedaço da vida de alguém; buscamos por sinais de envelhecimento, ficamos maravilhados com as mudanças incessantes de estilos de cabelo, ficamos surpresos com a invariabilidade das olheiras. A constância do seu olhar, no contraste com o revoar aparente do seu cabelo ou com a fluidez do mundo que o circunda me pôs a viajar sobre a vida, nas suas constâncias e inconstâncias. Pois, logo depois de ver esse vídeo, enquanto continuava minha viagem pelo ciberespaço, me deparei como fotos de lugares e pessoas do meu passado não muito distante. Como já diria Pierre Lévy, a internet amplia um evento, uma frase ou uma imagem, na medida em que esses elementos permanecem ali, acessíveis (acessados) a qualquer um e a qualquer momento. Um sentimento, publicado num fotolog qualquer, um sorriso furtivo que iluminou uma noite de conversas e bebidas, um som que evoca milhões de emoções contraditórias; tudo isso permanece, de alguma forma, fixado quando, no passado, evaporaria no fluxo da vida, seria esquecido, ou faria parte de um arcabouço de memórias recontadas, sendo talvez enterrados por outras memórias. Nós, dessa geração Internet, ansiosos em celebrar cada minúcia da nossa vida, não interessa o quão insignificante ela seja, vivemos uma espécie de presente constante. Não conseguimos esquecer, pois somos sempre convidados a rever, a relembrar. O exercício de esquecer, de mudar, talvez seja algo mais difícil hoje do que em outros tempos. Amores perdidos permanecem nos assombrando; sensações boas e ruins podem ser recordadas ao toque de uma tecla; emails, MSN e orkut nos aproximam, mesmo quando não o desejamos.
Pensando nisso tudo, pensei no fluxo da minha própria existência, nas coisas que insistem em nunca permanecer, e nas sensações que, contra a minha vontade, recusam-se a me abandonar. Fico pensando na dificuldade em construir estabilidades, e nas ansiedades que vivencio a cada momento que a vida insiste em me jogar para um outro lugar. Se há uma coisa que se repete em minha vida é essa peregrinação constante. Se antes era uma necessidade, hoje em dia me sinto um pouco oprimido por ela. Ainda assim, é complicado abrir mão do nosso destino, quando ele aparentemente se mostra dessa forma! E as coisas permanecem sim. Podemos celebrar e manter vivas as sensações boas e fundamentais, mesmo que a vida se mostre, às vezes, como um rio caudaloso que insiste em dissolver tudo.