As nossas opções nos marcam pelo resto de nossas vidas.
Existe alguma maneira de evitar escolhas? Existe saída para o dilema entre ir atrás de seus objetivos e ficar parado, esperando a vida tomar seu rumo "natural"? Existe tal rumo, tal "destino", do qual não conseguimos escapar? Não optar é, automaticamente, uma opção. Não existe a possibilidade de não optar por algum caminho na vida. E tais opções definem aquilo que somos, o que nos tornamos, e quais portas se abrem e se fecham para nós. Esse lance de fechar portas é o que me amedronta mais. Bom, talvez me amedrontasse mais antigamente... Com o passar dos anos, escutando repetidamente o barulho ensurdecedor de portas sendo batidas na minha cara, acabei por aceitar a inevitabilidade desse fato, quando ele ocorre. Nem sempre eu concordo; por vezes demoro em aceitar que perdi uma grande oportunidade, que fiquei apenas em segundo, terceiro, ou trigésimo lugar, eque não foi o bastante. Mas acabo aceitando. E tomando meu rumo. Em compensação, aprendo cada vez mais a tirar proveito da luz que emana daquelas portas que se abrem repentinamente. E venho aprendendo a tentar perceber pequenas brechas que sempre estiveram ali, ainda que eu não prestasse muita atenção a elas. Falar de perdas e de aceitar perdas parece muito fácil e muito bonito. Há sempre um clichê por trás de cada pensamento, tentando se passar por uma reflexão. Sim, o tempo cura tudo; sim, algumas coisas são inevitáveis... A maturidade, a idade, etc. Mais complicado é tentar entender os meandros dos sentimentos que tomam conta de mim quando percebo caminhos trilhados e caminhos perdidos. Se escolhi, se tomei atitudes, paguei o preço por isso. Se hesitei, idem. Hoje, olhando para trás, começo a perceber que tudo, agora, é mais concreto. Não tenho tempo mais de pensar sobre o "como seria", ou o "como poderá ser". Tudo agora É, concretamente. Tudo o que eu falo tem conseqüências reais. Sou vigiado e questionado o tempo todo. Qualquer deslize e estou fora da jogada. Tudo é mais intenso e mais urgente. Não há mais tempo para pensar sobre inseguranças: elas foram postas à prova, e continuam sendo, a todo momento. Tudo que eu mais temia (e muito do que eu busquei) acabou por acontecer, ainda que de uma forma muito diferente daquela que eu planejei ou imaginei. Enfrentei aqueles medos que, num passado não muito distante, me deixariam em depressão ou calado por meses a fio. E não morri por causa deles! Ainda assim, as perdas foram enormes, irreparáveis. A cada passo, perco um pedaço da minha carne, perco algo de mim mesmo, torno-me alguém diferente do que eu pensava que fosse. Se tenho uma profissão, preciso desistir de quase todas as outras possíveis. Se decido morar em uma cidade, deixo de morar em todas as outras. Se estou com alguém, deixo de conhecer o resto, que talvez me interessasse. Perdas banais, mas que compõem os dramas cotidianos de tanta gente; que alimentam os dilemas existenciais de milhões, bilhões. Corri tanto achando que precisava alcançar alguma coisa que deixei muita gente boa para trás, gente que me faz falta. Alguns correram para outros lados, outros ficaram parados, outros foram andando mesmo. Abandonei muitas lutas, muitas crenças, muitos valores. Ainda que, agora, eu seja obrigado a SER alguém, de fato, o tempo todo.
Talvez aí esteja a minha dificuldade: quem é esse personagem, que de repente é tão concreto? No que deu tamanha correria? O que foi, de fato, alcançado? O que isso importa?
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