Especulações livres

13 de ago. de 2009

Guerra Globo vs. Record

Essa guerra recente entre empresas de comunicação é um sinal extremamente positivo do nosso amadurecimento democrático,e poderá ajudar a nossa muito incipiente cultura de liberdade de imprensa. Resta saber se, culturalmente e institucionalmente, o Brasil está preparado para esse choque de liberdade. Democracia é, por definição, uma institucionalização de conflitos como esse. Ou seja, através de conflitos entre grupos, ganham todos com regras mais claras, fiscalização mútua e imparcialidade. A liberdade de imprensa, assim, serve exatamente para que lados opostos tenham a chance de expor suas opiniões e que a melhor, no final, saia vencedora por comparação, por mérito. No Brasil, o conflito e a liberdade de imprensa ainda são vistos como "crise", "instabilidade" e "crise de governabilidade". Nossa cultura é fundamentada no consenso e no entendimento de líderes, sendo episódios de conflito aberto ou de competição livre meras encenações (como, por exemplo, votações no congresso que são sempre combinadas antes entre os partidos). Ainda estamos repletos de ranços institucionais da ditadura de 1964-1985 (deputados suplentes, falta de transparência, etc.). A atual crise do congresso (que se arrasta há décadas, sendo somente agora explorada pela mídia) e as crises na imprensa aparentam estar todas relacionadas à luta de poder do ano que vem, quando teremos a histórica eleição sem Lula, sem salvador da pátria, sem mocinhos e bandidos definidos de antemão. Como discuti nesse blog anteriormente, a eleição de Lula significou, a meu ver, uma chance de se experimentar a luta aberta pelo poder, algo ainda inédito na nossa jovem república. Agora estamos aprofundando esse conflito, e estamos sendo expostos às entranhas do poder tal qual ele é exercido de fato. Se vamos antingir alguma medida de democracia política real, será preciso atravessar essa turbulência e amadurecer nossas instituições. Ainda não aprendemos a colocar bandidos na cadeia (com exceção do proverbial ladrão de galinhas), nem a punir pessoas corruptas. Quando isso começar a acontecer, e quando nos acostumarmos com o revezamento de grupos como parte fundamental da democracia, aí sim poderemos alcançar melhorias mais significativas. Reproduzo abaixo um pouco do debate entre Globo e Record.

Reportagem da Globo sobre Edir Macedo:


Reportagem da Record ataca as Organizações Globo:

11 de ago. de 2009

De repente, o amor


Reproduzo abaixo uma pequena resenha que fiz do filme De repente, Califórnia (Shelter, USA, 2007), dirigido por Jonah Markowitz. A resenha sairá no próximo número da revista Mente e Cérebro.

O filme De repente, Califórnia foi uma das melhores surpresas que tive no cinema este ano, por diversos motivos. Sem maiores pretensões, a história consegue comover o espectador interessado numa bela história de amor. Zach, um jovem de classe média baixa dos EUA, vive com sua família e ajuda sua irmã que é mãe solteira. Enquanto luta para sobreviver, vive uma inconstante e morna relação com sua namorada. No seu tempo livre, explora seu talento artístico fazendo graffitti urbano e surfa com os amigos.

Ao conhecer Shaun, irmão de um amigo de infância, começa a descobrir um amor verdadeiro, contra seus mais arraigados preconceitos. A dificuldade em perceber seus sentimentos por outro homem são mostrados de forma sutil e sem caricatura: enquanto Shaun é gay assumido, Zach aprende lentamente a aceitar conscientemente algo que ele próprio não acha “normal”. Ao longo do filme, Zach consegue, ao aceitar sua sexualidade transgressora, reecontrar-se com si mesmo e perseguir seus sonhos de frequentar uma escola de artes.

Além de uma história otimista, na qual o amor consegue vencer as barreiras mais intransponíveis, o filme sugere uma singela lição de moral aos opositores dos relacionamentos homoafetivos e àqueles que ainda não suportam a idéia de legalizar as uniões civis e a adoção por tais casais. No filme, a irmã de Zach, claramente pouco talentosa para a maternidade, demonstra pouca preocupação com a idéia de constituir uma família. Além disso, ela espera do irmão que aceite o fardo de criar seu filho para que ela junte-se ao namorado numa viagem ao norte do país para ganhar dinheiro.

Zach, e também o espectador, ficam surpresos quando ela, ao suspeitar da orientação sexual do irmão, rejeita que seu filho, prestes a ser abandonado pela mãe, seja criado por um homossexual! O dilema é claro e bem atual: é mais importante manter intactas as barreiras culturais, institucionais e legais que separam os homossexuais do resto da sociedade, ou devemos avaliar esses casais de forma semelhante a quaisquer outros, especialmente na questão da sua capacidade de criar e manter uma família? O velho debate entre natureza e cultura é recolocado, em novos termos.

O filme supreende por ser um dos poucos filmes lançados comercialmente no qual o personagem homossexual não morre ou é acometido por uma tragédia no final. A lição moral contida na maior parte dos filmes, como bem revela o documentário O celulóide secreto de 1995, é a de que o personagem gay, lésbico ou não-heterossexual é condenado no final por seu “desvio”. Uma das lições que aprende-se nesses filmes, enquanto espectador, é a de que não existe felicidade possível na homossexualidade. Mesmo o enorme sucesso O segredo de Brokeback Mountain, tão apreciado como uma história de amor moderna, não foge ao padrão de punir com a morte o amor impossível.

Felizmente, essa tendência ensaia mudança, em filmes como De repente Califórnia. Sem ilusões, o filme trata com cuidado as dificuldades de aceitação da sexualidade numa sociedade homofóbica e machista; aborda o desejo crescente de homossexuais nos EUA (e ao redor do mundo) de sair da marginalidade e compor famílias; e sugere ao seu público que é possível, sim, encontrar felicidade no abandono do preconceito e na busca dos nossos sonhos, sejam eles quais forem.

3 de ago. de 2009

aos 33, quase 34...


... percebi que me tornei um covarde em muitos aspectos. Coisa que, aos 17, eu não era. Ah, e que talvez nunca tenha amado ninguém de fato (romanticamente falando). Será que solidão vicia?

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