Especulações livres

14 de nov. de 2008

Mico


Mico, eu pensava, era o que rolava com os outros. Eu sempre fui imune, na minha fantasia. Imagina eu bancar o idiota desse jeito! Imagina eu, cair na conversa de alguém! Imagina eu, cair numa cilada tão óbvia! Daí, de tanto falar dos outros, você cai. E se vê fazendo tudo errado, igualzinho a todo mundo. Nada grave, mas mico é mico. E não perdoa. Você acaba passando pelo ritual completo e, mesmo dias depois, continua fazendo merda, sob o pretexto de conversar. Depois de pensar um pouco, você percebe que, sim, envelheceu, para o bem e para o mau. Para o bem, pois é mais ponderado, mais experiente e acumula menos gordura pelo corpo; para o mau, pois a barriga só cresce, o cabelo só cai e todo mundo no bar tem 10 anos a menos do que você. Ainda incerto sobre seu novo papel nesse jogo todo (pois só trabalha e evita as pessoas), acaba pagando os micos que tanto criticou nos outros quando você era o carinha de 18 (ou 23) anos, achando aquilo tudo muito emocionante. O lado interessante dessa história é que você acaba entendendo coisas que, na época, te pareciam impenetráveis. Pequenas babaquices que te irritavam nos outros e que, agora, são parte da sua própria natureza. Um pouco triste, mas um pouco de alívio. Alívio sim: pois percebe que não passa de um ser humano, tateando pelo mundo de forma tão cega quanto os que vieram antes, e provavelmente como os que virão depois. E tenta se perdoar no meio disso tudo...

21 de ago. de 2008

Sobre algemas

Só rindo para não chorar do absurdo que se tornou essa discussão em torno de uso de algemas...

Mas, a meu ver, há sim um lado positivo nesse descalabro todo: pelo menos agora vemos uma explicitação, além de uma institucionalização, dos preconceitos de raça e classe que norteiam a vida social e jurídica no país. Tais preconceitos, que funcionam intactos desde o século 16, sempre foram o não-dito (o óbvio que não precisa, ou não deve, ser dito) que ordena as relações sociais profundamente desiguais no país, em detrimento de quaisquer leis escritas. Há ,no Brasil ,plena consciência desse descolamento entre teoria e prática, através de percepções de que algumas leis "não pegam", por exemplo. A meu ver, no entanto, enquanto permanecem leis costumeiras, tais preconceitos fogem de um controle institucional, impedindo qualquer consolidação maior da democracia, dado que as leis e as instituições não refletem a sociedade. concreta. Com as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal relativas a algemas e concessão de habeas corpus (alguém precisaria urgentemente fazer um levantamento quantitativo do tempo médio que decorre entre a entrada de um pedido de habeas corpus e a tomada de decisão pelo STF, cruzando dados como raça e classe do requerente, por exemplo), vemos a institucionalização de desigualdades que sempre fizeram parte do nosso já teorizado "racismo cordial" (que de cordial nada tem). A obviedade da injustiça de tais decisões traz alguma esperança de que, no debate feito entre juízes de primeira instância, Polícia Federal e população, alguns costumes mudem, e sejam assim refletidos em leis mais justas. Até lá, fico com a charge mesmo, esperando sentado.

10 de ago. de 2008

À meia noite levarei a tua alma (José Mojica Marins, 1964)



Em homenagem ao lançamento do novo filme de Marins, Encarnação do Demônio, e fã que sou do seu trabalho, resolvi rever o primeiro grande sucesso do diretor. Afinal, se a trilogia sobre Zé do Caixão aparentemente se completa agora, 44 anos depois do início da série, quis reencontrar o personagem lá no inicio, quando fora pensado pelo seu criador. A primeira dificuldade se coloca: posso eu, como fã, escrever de forma “objetiva” ou “desinteressada” sobre Mojica? Claro que não, e também não estou interessado em tentar. Toda escrita não deixa de ser uma opinião, por melhor fundamentada que seja. Qualquer análise, especialmente de obras de arte, tem por trás de si interesses. Dada essa premisa, uma outra dificuldade correlata é: como separar o personagem Zé do Caixão presente nos filmes da sua imagem, superexposta pela mídia mundial? Como olhar para um filme como À Meia Noite... hoje sem ser influenciado pela infinidade de discursos, de todo tipo e viés, sobre o diretor, sua obra e especialmente sobre Zé do Caixão, que emerge do imaginário popular urbano brasileiro para tornar-se um dos ícones do terror mundial? A resposta é a mesma: não é possível. Todo discurso possui um contexto, um espaço e um tempo. Minha tentativa de escrever sobre Mojica agora, contextualizada pelo lançamento de seu novo filme, não deixa de ser também minha gota d’água na correnteza de palavras e imagens produzidas a seu respeito. Deixo aqui minha pequena contribuição, que é ao mesmo tempo expressão da minha admiração pelo diretor, que considero dos maiores do panteão de cineastas nacionais.

Ao rever o filme, fica clara a diferença entre Zé do Caixão aqui e em outros filmes do diretor. Zé do Caixão tem nesse filme uma concretude que difere da condição de símbolo e ícone que ganhou após o seu sucesso estrondoso que fez. Mojica, que faz meta-análises próprias sobre Zé em diversos filmes seus (de forma mais brilhante em Ritual dos Sádicos, de 1970), aqui apresenta uma história simples, sobre um homem complexo que enfrenta dilemas existenciais e questiona desde as tradições da vila em que mora, até a sua religião. Pelo menos na versão que assisti, o filme possui estrutura linear bastante definida, bastando-se a si mesmo: não deixa aberturas para seqüências e apresenta a vida e morte, começo e fim desse personagem.

Assim como em tantos outros filmes seus, os conflitos apresentados são ao mesmo tempo de natureza puramente existencial (a recusa em seguir tradições, o prazer e a proibição do sadismo, a busca de procriar e dar continuidade ao sangue) e profundamente filosóficos (recusa da religião como meta-explicação para a natureza, a elevação da vida guiada pelo prazer dos sentidos como justificativa máxima para existência, a recusa da moralidade em favor da continuidade do sangue dos mais fortes). Tais sutilezas, completamente apagadas de grande parte das análises que leio de Mojica, são tambem perdidas ao longo de tantos outros filmes do diretor. Em outras palavras, enquanto que nesse primeiro filme Zé aparece como complexo ser humano, que ao mesmo tempo mata sua esposa (justificada, por ser infértil) e admoesta um pai por bater em seu filho (pois as crianças são a continuidade do sangue), em outros filmes Zé do Caixão vira imagem. Ou seja, os argumentos tomam como ponto de partida o imaginário popular que desenvolveu-se em torno do personagem, por vezes analisando sociologicamente o fenômeno, por outras lamentando o apagamento do diretor Mojica e da confusão criada entre criador e criatura (confusão que Mojica faz questão de incentivar em aparições públicas).

Numa entrevista, parte dos extras desse DVD a que tive acesso, Mojica esclarece pequenos detalhes sobre Zé do Caixão, reveladores da sua concretude enquanto ser humano. Para além da famosa história a respeito de como Mojica sonhou com a data de sua morte, quando foi então “revelado” o personagem (ou assombrado por ele), Mojica menciona que Zé do Caixão foi um soldado que, tendo retornado da II Guerra na Europa, não consegue adaptar-se à comunidade local. No filme vemos um pouco da vida social de Zé: vai à pescaria com amigos, tem um casamento relativamente feliz e freqüenta o bar local como qualquer pessoa. Ainda que sua aparência destoe da do resto da comunidade (a famosa capa preta e cartola), Zé é parte da comunidade, um ser humano e não uma aparição etérea.

Seus problemas começam quando Zé, cansado de esperar que sua esposa engravide, decide matá-la. O assassinato marca a “queda” do ser humano Zé, em direção ao lado escuro da sua personalidade. A meu ver, o filme como um todo pode ser visto, entre outros registros, como o de uma queda de Zé rumo ao extremo de suas ideologias (um dos temas favoritos de Mojica nos anos 1960), caminho que o leva também em direção ao sobrenatural. O sobrenatural serve no filme tanto como marcador do macabro, quanto para dar sentido ao discurso social e filosófico de Zé. Ou seja, como figura socialmente aberrante, anti-religioso e nietzscheanamente a favor da “vida e do sangue”, Zé aparece para sua comunidade como “monstro”.

Mojica faz assim um paralelo entre a superstição do povo no filme com a imagética que dá sentido ao próprio filme (abusando de estereótipos como gatos pretos, ciganas e despachos de umbanda). O filme possui então ao menos duas camadas de sentido relevantes para entender o efeito de terror que é buscado. A primeira, no interior da história, Zé do Caixão como desviante é percebido como marginal na sua comunidade, tornando-se assassino na sua busca de realizar a continuidade do sangue. A segunda refere-se às opções estéticas do diretor: Mojica, consciente como sempre do seu público, apresenta um dilema de representação: como tornar visível a recusa da moral?

No caso brasileiro (ou a partir da compreensão de Mojica do brasileiro da sua época), tal recusa faz sentido visualmente em termos de uma afronta às tradições religiosas (a célebre cena de Zé comendo carne com a procissão ao fundo), e do sobrenatural (ciganas, cemitérios, almas penadas): um anti-cristão só pode, nesse esquema de sentido, ser aliado do “demônio” ou de “forças ocultas”. Zé do Caixão, ao recusar a moral (o bem e o mal tal qual definidos pela sua comunidade) em favor do que ele chama de “superioridade da vida” (representada pelo direito do mais forte de impor sua vontade e de reproduzir seu sangue), é percebido então como encarnação do mal; ou seja, é lido nos termos da moral que ele próprio busca recusar. Em outras palavras, Mojica enfrenta o dilema por ele proposto ao abraçar em certa medida alguns clichés visuais e míticos os quais ele comenta irônicamente ao mesmo tempo em que os usa em seu favor, para chocar o público.

Zé não deixa de ser algo confuso, um meio termo entre o real e uma aparição. Para além do filme, Mojica também busca o tempo todo confundir os limites entre o real e a ficção a partir de suas falas sobre o filme. A construção visual do personagem é um exemplo: o excesso nas roupas (que Mojica revela em entrevista serem peças tiradas de uma fantasia de Exú) é associado a uma decoração pouco tradicional mostrada no filme, por exemplo, a partir de mãos de manequins servindo de ganchos; uma especie de “pré-psicodelia mojicana” que antecipa a visualidade de filmes como Laranja Mecânica. Nascido como um coveiro com opiniões bastante heterodoxas sobre as pessoas que o cercam, achando-as ignorantes e supersticiosos, no decorrer do filme Zé atravessa uma fronteira, rumando em direção ao “monstro” que tanto define sua imagem posterior.

PS: Publico esse texto sem ter visto o novo filme, que estreiou ontem, 08/08/08. Tentarei postar comentários sobre o novo trabalho assim que conseguir assistí-lo.

5 de ago. de 2008

Charge sobre Daniel Dantas

Ainda sem palavras para comentar esse caso, que vai entrar para história (um dia, quando essa história puder ser contada, quem sabe daqui a 100 anos), achei essa charge bem interessante, como documento simplificado dos fatos. Num momento perverso da nossa política, mas que ao mesmo tempo permite que vejamos as entranhas do câncer que corrói a nossa sociedade há tanto tempo, o que há de claro é um momento de desencaixe entre a realidade e as linguagem que possuímos para descrevê-la. Pelo menos no consciente coletivo (leia-se: mídia, conversas de botequim, etc.; pois em várias instâncias já se fala a verdade em novas linguagens a muito tempo, com em alguns blogs e revistas). Será que ocorrerá de a sociedade brasileira, a partir de uma reavaliação dos fatos, começar a exigir novas leis, novas práticas públicas, novas atitudes de seus governantes? Permaneço otimista. Mas devidamente sentado.

26 de jul. de 2008

Auto-retrato, 2008


Não consigo reconhecer a mim mesmo.


Não consigo reconhecer-me no espelho, nas minhas atitudes, nas minhas opiniões, no vivenciar do meu próprio corpo. Isso me faz pensar num auto-retrato: será que, no processo de pintá-lo, um artista queira, de alguma forma, explorar a sua própria personalidade, seus sentimentos, suas percepções de si? Não sei, nunca pintei nada. Mas, ainda que seja perturbador, vivo essa ausência como algo positivo. Deparo-me com alguém que admiro muito mais, de quem gosto muito mais. Alguém que conheço pouco, mas que me intriga. Ainda que esse alguém seja mais estranho e complicado do que a pessoa que conheci há poucos anos atrás.

[imagem: Two Studies for Self Portrait, Francis Bacon, 1977]

23 de jun. de 2008

Desterritorializado


Desci a rua, procurando retomar alguns dos lugares que davam, para mim, sentido àquela cidade. A poluição irritando minhas narinas era-me bastante familiar, ainda que algumas coisas a gente busque sempre esquecer. Não vi ninguém: o burburinho de pessoas bebendo cerveja e conversando, a paquera rolando solta, até a gritaria que incomodava os moradores de classe média-alta do local, todos sumidos. A rua deserta, os bares fechados. Na rua de baixo, a mesma coisa. Ali, numa esquina onde por tantas vezes ficava observando o movimento, pensando na vida, paquerando, escutando conversas alheias, comparando corpos, avaliando o que estava na moda, reencontrando velhos amigos e fazendo novos... Tudo aquilo que compõe o que chamamos de vida. Não era o tipo de vida mais salubre, ou as melhores companhias possíveis, mas não eram as piores. Era o que tínhamos, e era bom saber que ali poderíamos estar, de certa forma, à vontade. Ao me deparar com o vazio, senti esse mesmo vazio dentro de mim. Ao voltar ao meu país, buscando reconectar com algumas das minhas raízes, deparo-me com a ausência. Sinto-me ausente, desconectado, andando por um sonho, no qual não participo, um fantasma. Sinto-me velho, como se eu estivesse fora de moda, ou alheio aos tempos; como se tivesse perdido o bonde. Para onde foi todo mundo? Decerto ainda se encontram, conversam, afinal fazemos isso há milênios... Conversar com algumas pessoas, infelizmente, traz-me o mesmo sentimento de vazio e de perda. Não consigo achar as mesmas coisas interessantes, não consigo rir da mesma forma, das mesmas piadas. Algo aconteceu de muito importante, para além da perda, e eu preciso entender o que é. Isso se quiser retomar algo. O vazio, diria o otimista, é a chance de construir algo novo, quiçá melhor do que o que havia ali antes. O pessimista diria que é a inexorável viagem rumo à morte, o tornar-se obsoleto, ou algo desse tipo. A mim, que não consigo mais saber se sou um ou outro, ou nenhum deles, ficou a impressão de que o tempo passou, e eu não percebi. Como se perdesse algo de central num filme enquanto tivesse ido ao banheiro, ou buscar mais pipoca. Será que esse algo está dentro de mim, ou será que, como num filme de Buñuel, estou numa nova história sem relação nenhuma com a anterior? A pausa é algo de que precisava, mas a impaciência começa a manifestar-se, como sempre.

[imagem: Rua da Consolação, São Paulo]

8 de abr. de 2008

Novo "layout"


Andei brincando com o "layout" do blog. Nunca fui muito de fazer isso. Nem a minha casa decoro muito, mas sempre e tempo de mudar essas atitudes. Achei uma pintura do Rembrandt, com o tema de um pintor, um interessante comentario visual sobre as coisas que mais me empolgam na hora de escrever: nao imagens em si, mas representacoes, de todas as formas. De mim mesmo, filmes, a propria politica. Enfim, as tais especulacoes livres. Fiquei pensando que em alguns meses o blog completa 4 anos de existencia. Nascido em Sampa, o blog representa para mim esse periodo da minha vida as tantas coisas que pensei e experimentei por la. Quase tudo que escrevi aqui relaciona-se com os 4 anos otimos e terriveis que passei na cidade. Se eu nunca mais voltar a morar em Sao Paulo (e espero que esteja errado nisso), que fiquem essas lembrancas aqui daquele tempo.

[imagem: Artista em seu estúdio, Rembrandt, 1629]

Politica


Hoje estava pensando nas politicagens da vida cotidiana. A necessidade de sorrir, ser simpatico, fazer sala, dar atencao, rir das piadas mesmo sem gostar, ligar para as pessoas, entre milhoes de coisinhas que, no final das contas, tomam boa parte do nosso tempo de vida. Fico pensando como essas coisinhas me irritam, drenam a minha energia, fazendo-me sentir um idiota sem personalidade as vezes. Por outras, penso que disso e feita a "boa vida", estar com pessoas que se gosta, sair um pouco do seu mundo e conhecer mundos diferentes dos seus, relacionar-se. O jogo de equilibrio entre essas duas coisas e que me faz pensar na canseira da vida. Para alguns nao e nada: ignoram quem nao gostam, nao ligam, nao fazem jogo nenhum. Eu sou daqueles mais fracos que preocupam-se com a opiniao alheia, e por vezes fico ao lado de alguem por lealdade, nem tanto por amizade. Se ha um pecado ai, nao saberia dizer, pois qual desses valores deve ser posto em primeiro lugar? Acho que ficar pensando nisso ja e sinal de que "fazer social" me preocupa mais do que a outras pessoas. Em todos os sentidos. O interessante e pensar que mudei de alguem que tinha medo de sair do quarto para conversar com visitas na sala, para uma pessoa bastante social, que as vezes fala demais. Talvez no fundo (e aqui vem mais uma daquelas finalizadas cliche para um texto como esse) eu continue aquele rapaz timido de outrora, mas que busca se proteger da sociedade sendo social ao extremo. Noto que sempre falo muito mais quando estou nervoso. Talvez o segredo seja criar uma zona de conforto para si mesmo, e defender essa zona de pessoas que nao contribuem para ela. Isso sem tornar-se um anti-social, mas apenas alguem que consegue ter os amigos que quer, sem forcar-se a ser amigo de todo mundo. E sem sentir culpa por isso. Ou seja, preciso de tratamento mental o quanto antes, por ficar me debatendo a respeito do obvio por aqui!

[imagem - "Emblemata Politica In Aula Magna Curiae Noribergensis Depicta por Peter Isselburg, 1617, Nüremberg, Alemanha. pp. 36 (Legenda: Minor esca maioris; Bilduntschrift: Um peixe maior comendo um peixe menor)= proverbio: 'Big Fishes eat small fishes', from a book of emblems - Livre d'emblèmes]

2 de abr. de 2008

Curriculo


Mais uma vez me vejo diante da necessidade de sair do conforto da minha cama para escrever (no passado seria rabiscar, bem mais romantico que teclar) coisas que me passam pela cabeca. Sobre curriculos amorosos, ja tive tantas conversas que perdi a conta. E para ser sincero, nunca gostei do meu proprio; aos ex-namorados, peco perdao! Nada pessoal contra ninguem, nao sinto-me satisfeito e comigo mesmo. Pessoas vem e vao, entram e saem da minha vida. O que se repete sempre e a minha incapacidade de entrega, de confianca de que aquilo pode um dia "dar em algo". A maneira mais facil de racionalizar essa suposta incapacidade de envolvimento, essa fobia de relacionamento, esse medo de entregar-se seria jogar a culpa na homofobia. E veja bem, caro leitor, nao se pode subestimar o estrago psiquico e social sofrido pelo jovem que, desde cedo aprendendo que seus desejos mais intimos sao "errados", "anti-naturais" e "vergonhosos", passa a incorporar a ideia de que ele simplesmente nao e bom o suficiente. Nao falo de mim, falo de qualquer jovem em qualquer lugar que tem que lidar com uma sexualidade divergente. Mas sem coolocar muito peso nesse fator particular, quais seriam entao as outras causas disso? Nunca fiz analise, entao na me vejo capaz de elaborar muito mais. Familia, amigos, passado, experiencias marcantes na infancia... Nao me interessam tanto as razoes, mas talvez discorrer um pouco sobre o passado. Dificil nao pensar no passado quando acabo de retomar contato com um dos meus relacionamentos mais marcantes. Uma pessoa com quem, hoje me dei conta, via-me capaz de estabelecer algum vinculo muito duradouro. Talvez tenha sido ele a unica pessoa com quem quis, de forma bem consciente, "casar", o que quer que isso signifique hoje em dia (pouco importa). Ate aqui, parece que vai tudo bem: pelo menos ja me pensei ao lado de alguem, mas uma analise mais profunda desse caso traz a tona a patologia de que havia falado anteriormente. Pois a pessoa em questao, como sempre soube, e hoje apenas confirmei, nunca viu nosso envolvimento nem como namoro. Nao passava de uma "amizade colorida", em termos mais correntes (ou nem tanto, ja estou ficando velho). A questao se coloca, portanto: por que uma das suas experiencias mais marcantes ocorreu com alguem que explicitamente, no passado e no presente, nunca quis envolver-se de fato com voce? A construcao de castelos nas nuvens, atividade existente desde sempre em mentes desvairadas, leva a esse tipo de situacao. Vive-se um intenso romance que nunca foi. E talvez nesse fato resida a resposta para a sua suposta incapacidade, caro jovem. Nao que voce tenha medo de envolver-se, nao que seja incapaz, nao que seja impossivel: mas a falta de realismo, de auto-estima e de percepcao do que esta ocorrendo a sua volta (na regiao externa ao vosso umbigo) nao ajudam em nada. Sempre fui critico, que fique claro, a reificacao do romance como algo bom em si mesmo. Sempre fui do tipo solteiro convicto, workaholic e obsecado com minha carreira. De fato, sabotei o unico relacionamento mais verdadeiro que tive (ainda que bastante conturbado) por que sentia-me preso e limitado nas minhas ambicoes (entre outras coisas que nao cabem aqui). E por que o unico relacionamento mais efetivo foi tao instavel e pouco satisfatorio? Por que a insistencia em envolver-se com pessoas que simplesmente "nao funcionam" com voce? Fico com medo ao rever meu curriculo: namoros instaveis, paixoes intensas e violentas com individuos completamente ausentes. Ha que ser algo mais que egoismo. Incapacidade de ouvir, de olhar para o lado, ou simplesmente falta de relaxar e viver? Com todas as minhas tentativas de "experimentar o mundo", fico com a impressao de que conduzi um enorme, longo e tortuoso experimento controlado. Ainda que sempre me visse como alguem a deriva, a procura de tutela, comeco a perceber que nao passo de um ditador enrustido. E de que escondo-me por tras de uma mascara de sinceridade exacerbada. Olhar para tras nao e a saida. Sempre e construtivo entender sua propria historia, e contextualiza-la no presente. Essa reconstrucao de uma narrativa de mim mesmo sempre me fez bem. Mas me preocupa, por vezes, a pobreza desse tal de "curriculo", que preciso sempre re-analisar. Ainda nao entendi por que virei um romantico profissional, mas nao me importa tanto mais tambem. Talvez seja a hora de parar de se precupar com essas coisas? Se fosse facil...

23 de mar. de 2008

Holi festival, Austin 2008

Holi (Hindi: होली), or Phagwa (Bhojpuri), also called the Festival of Colours, is a popular Hindu spring festival observed in India and Nepal. In West Bengal, it is known as Dolyatra (Doljatra) or Boshonto Utsav ("spring festival").

On the first day bonfires are lit at night to signify burning the demoness Holika, Hiranyakashipu's sister.

On the second day, known as Dhulhendi, people spend the day throwing colored powder and water at each other. The spring season, during which the weather changes, is believed to cause viral fever and cold. Thus, the playful throwing of the colored powders has a medicinal significance: the colors are traditionally made of Neem, Kumkum, Haldi, Bilva, and other medicinal herbs prescribed by Āyurvedic doctors. A special drink called thandai is prepared, sometimes containing bhang (Cannabis sativa).

Rangapanchami occurs a few days later on a Panchami (fifth day of the full moon), marking the end of festivities involving colours.

Holi takes place over two days in the later part of February or March. As per the Hindu calendar, it falls on the Phalgun Purnima (or Pooranmashi, Full Moon), which will occur on March 22 in 2008. On the first day (22 March 2008 CE), symbolic burning of evil takes place, while the fun part of playing with colors takes place on the second day. (In 2007, Holi was celebrated on 3 March, the burning of Holika was on 4 March and the Dhuleti on 5 March.)



Holi 2008 from Jaladhi Pujara on Vimeo.

16 de mar. de 2008

A Volta


Nao, nao e uma volta ao blog depois de meses sem escrever... E mais minha ansiedade com a volta ao Brasil, que se aproxima. No meio do turbilhao de coisas que estou sentindo agora (a maioria nada relacionada ao lugar onde moro ou onde vou morar) minha ansiedade escolheu a mudanca pra focar seus esforcos. O que significa: insonia, leves depressoes seguidas de horas e horas de organizacao de papeis, pesadelos sobre meu passado e futuro, e falta de vontade de socializar muito. So o fato de ter que reorganizar as coisas, tipico em qualquer mudanca, me faz rever minha trajetoria mais uma vez (ja nao fiz isso umas 500 vezes antes?), reviver o passado, repensar meus medos, e tudo isso comeca a pesar sobre as costas. Note, caro leitor, o tom do post: repleto de reclamacoes, um certo ar negativo e blase, uma coisa assim quase "mal do seculo", essa auto-vitimizacao que me persegue desde sempre. Enfim, por essas e outras que nao ando escrevendo no blog. So de escrever essas coisas e ter que ver que ainda sou essa pessoa, fico irritado. Tao dificil quebrar padroes de comportamento! Sobre a escrita, sinto que tive um momento de muita criatividade no blog, mas que agora estou guardando forcas para aguentar uma transicao pesada que parece que vem vindo. Gracas aos deuses, se tudo der certo, vai ser pra melhor.

28 de fev. de 2008

Clipezinhos legais

Um amigo meu musico postou um video muito legal no Youtube, meio psicodelico, meio clube, meio musica paulistana contemporanea (se e que tem algo assim), mas vale a pena.

18 de jan. de 2008

Katnip Kollege (1938)

Mais um da serie "sem tempo, sem assunto", aqui vai um otimo desenho da Merrie Melodies que achei no excelente blog Boing Boing. Nao e tao bom quanto os da Betty Boop, mas a aula de "swingology" e deliciosamente divertida.

Total de visualizações de página