Especulações livres

6 de jan. de 2007

Stereo (David Cronenberg, Canada, 1969)



Quando assisti esse filme, encartado junto com o DVD de um outro filme obscuro de Cronenberg (Fast Company, de 1979), entendi um pouco melhor o que tanto me fascina no diretor. Ha varias coisas que poderiam ser ditas sobre o filme, como por exemplo: que ele antecipa grande parte dos temas que o diretor explora mais tarde, especialmente ligados ao corpo, a tecnologia e a sexualidade; o filme serve como exercicio preparatorio para filmes como The Brood, Scanners, Videodrome, The Fly e Existenz, na medida em que mistura uma narrativa cientifica, cruzamentos de fronteiras entre humanos e maquinas e entre identidades sexuais, e sugere temas como telepatia, mutacoes, cirurgias, psicologia, cibernetica, entre outros. O filme e costurado pela narrativa, sempre em off, que sugere um cientista relatando resultados de suas experiencias, ou lendo trechos de livros academicos sobre os temas citados. As imagens, filmadas num predio de arquitetura modernista, com muitas lihas retas e espacos vazios, mostram aparentemente os sujeitos das experiencias sendo relatadas, engajando em todo tipo de interacao, desde olhares, trocas de caricias, ou trocas telepaticas. Destaque para a historia de um especime que fura um buraco na testa no decorrer das experiencias, a fim de se livrar das pressoes que ele relata sentir na cabeca (tema explorado depois em Scanners); a analise das interacoes entre os telepatas, na qual o narrador sugere uma explicacao para a organizacao hierarquica entre os sujeitos (tambem retomada explicitamente em Scanners); e a analise da omnisexualidade como expressao da verdadeira sexualidade humana (tema que aparece de forma velada em varios filmes, desde Crash ate Dead Ringers, entre outros). A semelhanca com filmes de laboratorio confere ao filme um certo tedio asseptico, que foi exatamente o que agucou a minha curiosidade (a origem desse meu fascinio e um minsterio pra mim mesmo). A sucessao de trechos altamente teoricos pesa sobre o filme, e qualquer narrativa fica sugerida somente na sucessao de imagens e numa quase fortuita ligacao entre o texto lido e as imagens. O mais interessante e pensar que Cronenberg antecipa discursos altamente em voga no mundo academico hoje em dia, ao misturar cibernetica com carne, tecnologia e sexualidade. Nao a toa, seus filmes sao constantemente referenciados nos artigos academicos que discutem comunicacao e tecnologia atualmente.

6 comentários:

André disse...

apesar de interessante pelos motivos que você citou muito bem, acho o filme chatíssimo, um porre.

Marko disse...

Mais chato ainda e Crimes of the Future... Nem consegui assistir ate o fim!

Anônimo disse...

Não vi o filme, fiquei interessado.

Anônimo disse...

Sim, gostei das cameras do filme.
obrigado por responder o email e queria saber o que faz em antropologia nos EUA?

dionisios.zip.net

Demonarch disse...

Não conhecia este filme do Cronenberg, mas me parece interessante.

NUCOOL | MICROPODERES disse...

Que tal assistirmos Dead Ringers ( Gêmeos - Mórbida Semelhança) do Cron???

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