Especulações livres

29 de jun. de 2006

E por falar nisso...

... tem sempre aquele papo chato e repetitivo, a porcaria do romantismo. Ó céus, ninguém me ama, ninguém me quer... Ó céus, onde foi que eu errei... Puta coisa chata, esse derrotismo, esse padrão besta que não funciona para todo mundo e só serve pra fazer a gente se sentir mais derrotado ainda! Ninguém pensa mais em fazer alguma coisa da vida, em descobrir alguma coisa, em curtir alguma coisa? Em desbravar um caminho, uma conversa, um sentimento?? Será que esse papo chato de poesia só serve mesmo pra encher linguiça de blogs existencialistas? Tem tanta coisa pra derrotar a gente, pra "provar" que não chegamos lá, e a gente correndo atrás de todas... E tanta gente se iludindo de que vive esse ou aquele ideal, ou que simplesmente acatou a decisão de que a derrota é inevitável. Esses são os piores, pois se derrotaram e querem que você vá pro buraco junto com eles. Destróem qualquer beleza com um ou dois comentários irônicos pseudo-inteligentes (muita gente confunde as duas coisas; ironia e inteligência são diferentes, mesmo quando andam juntas). Mas o mundo é grande o bastante para eles e todo o resto. Acho que por ser quem eu sou é que só consegui ter um namoro, e o dito cujo era alguém com poucos limites. Mas o que me fascinava nele é a mesma coisa que me impede de ser amigo (ou qualquer outra coisa) do próprio. Afinal, não tenho mais 21 anos, nem 28. Ainda assim, acredito que as coisas podem mudar, que a gente deve ir atrás do que sonha, que o mundo é muito maior do que é dado ao primeiro olhar. Engraçado que as porradas da vida me deixam só mais romântico do que eu era... Mas gente, não confundam esse romantismo com coisa de novela das seis da Globo. Casar com o príncipe (ou princesa) é bonitinho, mas só existe na novela. A vida real pode ser complexa E romântica ao mesmo tempo. Pensar que a vida é assim é que a torna, pra mim, tolerável. Ou melhor, maravilhosa.

27 de jun. de 2006

Perder-se...

..., de repente, é algo tão fundamental, positivo, pois libera você de amarras e possibilita que energias criativas sigam um curso impensado, inesperado. A estabilidade pode trazer a sensação de segurança, mas o conseguir perder-se é, talvez, um exercício mais fundamental. Perder-se de referências, de lugares fixos, de coisas queridas, de pessoas, de rotinas. Experimentação sempre foi algo com que me identifiquei bastante. Boa parte da minha vida tem sido um grande experimento existencial, uma forma que eu encontro de tornar a minha curta existência carnal em algo que faça sentido, algum tipo de sentido, para mim. E que esse sentido seja belo de alguma forma, tenha algum tipo de poesia (para repetir algo que andei falando antes). Não que eu fizesse isso de forma consciente: muitas vezes experimentava algo por falta de noção, por falta de opinião própria, ou por fraqueza. Ainda assim, nunca saio de nenhuma situação de mãos vazias: sempre carrego comigo algo, seja uma cicatriz, seja uma nova linguagem, seja a habilidade de tomar cerveja com amigos, etc. etc. Não há perda, então, nesse perder-se... Hoje me perdi vendo o jogo do Brasil. Amanhã quero me perder e só me achar (ou ser achado) no final das férias... E que venham as férias!

26 de jun. de 2006

Perdido?

Hoje queria simplesmente escrever, sem motivo, pelo simples prazer de pressionar as teclas e sentir que consigo fazer isso, passar algum sentido da minha vida aqui em forma de palavras e frases, ainda que mal escritas e nada poéticas. A poesia sempre foi um problema para mim, e no final das contas vivo imerso nela, essa poesia que são os mais banais sentimentos humanos, os mais simples anseios e as mais simplórias preocupações. Tudo isso é tão poético quanto qualquer rima hypada ou cantada. A beleza está em todos esses lugares, de alguma forma. Talvez eu fique assim mais sensível em tempos de dificuldade, ou quanto estou triste, ou quando me sinto fraco por algum motivo, mas na verdade não é nada disso, hoje eu simplesmente queria articular frases, sentir o tesão de ver a seqüência de letras me envolvendo e fazendo sentido de alguma forma. Escrever sempre foi para mim uma válvula de escape, ou uma forma de existir, ou de criar algo belo. Ainda que eu escreva o dia inteiro, nunca me canso de escrever, nunca deixo de querer escrever novamente. Talvez o que me angustia agora é o fato de ter que ir dormir para trabalhar amanhã, ou talvez eu esteja simplesmente escrevendo para me lembrar de coisas que eu fazia num tempo que não existe mais... Mas a busca é a parte mais legal da coisa toda, dizem. Pelo menos continuo buscando, totalmente perdido, mas vivo.

20 de jun. de 2006

Concretudes

Relendo o meu último post e pensando sobre os comentários, ponho-me a pensar. Além de rever todo um período recente da minha vidinha medíocre, começo a achar que estou mudando de ciclo. Penso nos dias e dias vazios que eu tinha em São Paulo, sem ter muito com quem conversar, querendo tanto contato humano, sem ter nenhum "lugar", procurando o que fazer com meu excesso de tempo livre e reclamando disso. Hoje agradeço algumas horas do dia sem ver ninguém, sem conversar com ninguém, sem falar um pouco. Eu pedia para os deuses que me dessem trabalho, pois nada era pior do que ficar sem fazer nada e não ter dinheiro nem perspectiva. Hoje eu só peço a eles um pouco de férias! Não estou reclamando das mudanças, só pensando alto mesmo. Penso como a gente paga a língua em tantas coisas. Esse "pagar a língua", na verdade, pode ser somente a tomada de consciência de uma burrice ou ingenuidade passada, mas continua assim um certo choque. Este blog, em retrospecto, é expressão (como sempre é, em qualquer blog) de um certo período da minha vida. Pesado, denso, complexo, especulativo, sonhador, pessimista, iludido, solitário. Tudo isso são expressões minhas, e de tantas outras pessoas, mas com certeza não exprimem as coisas que vivo hoje. Hoje é a concretude que marca as minhas coisas, as responsabilidades, as lutas concretas por espaço, etc. O engraçado é perceber o quanto eu me protegia do mundo há uns meses atrás, evitando sair, namorar, conhecer pessoas. Hoje, que tenho muito menos tempo e energia, me deixo levar pelo mundo com enorme facilidade. Curtir coisas sem hora para voltar para casa, por exemplo, é sempre algo complicado para nós CDFs, mas hoje consigo ver um certo valor nisso. Engraçado como depois de uns beijos, uma conversa aberta, consigo me ver de novo como uma pessoa sexuada. Apesar da barriga, dos cabelos brancos e das rugas novas. Não, caro leitor, não estou fazendo um daqueles textos "a gente só valoriza o que tinha quando perde", não é isso! Seria mais um texto tentando dizer, mal e porcamente, que hoje sinto que tenho algum tipo de lugar no mundo, coisa que busco há décadas. Claro que eu sempre tive algum lugar, mas ficava sempre difícil me ver encaixado no mundo. Culpa, talvez, da astrologia: excesso de planetas em signos do elemento ar? Excesso de intelectualidade? Falta de conexão com o mundo concreto? Vai saber...! Cortando em míudos, ultimamente estou mais é com vontade de conhecer alguém que me valorize não somente por causa daquilo que eu falo e penso; ou seja, alguém que me trate um pouco como carne, que perceba o quanto eu sou corpo (e não só mente) e que me ajude a descer um pouco das nuvens, por que lá tá muito chato!

4 de jun. de 2006

Conversando sozinho

Anda difícil atualizar esse blog. Chega uma hora que ninguém aguenta ser denso, fica cansado, de saco cheio, sem gás. Ando meio assim, mas pelas melhores razões possíveis. Engordei 10 kilos desde o ano passado, meus cabelos brancos multiplicam-se na minha cabeça, mas eu ainda assim me vejo mais feliz do que nunca. Superei uma fase em que achava ter fracassado em quase tudo. Sim, para uma pessoa dramática como eu, qualquer problema relativamente simples pode se tornar um dilema enorme, existencial e de personalidade. Claro, fruto de inseguranças acumuladas durante anos e anos a fio. Fracassos são comuns, normais, são partes necessárias de qualquer caminhar, certo? Ainda assim, um pequeno deslize nada anormal me levou a questionar tudo, a cair num buraco negro de incerteza e fechamento. O tal "fechado papa balanço" nunca foi tão minucioso. Ainda que eu me sinta melhor a cada dia, capaz de sair de uma concha estranha, vejo que tudo à minha volta mudou. Quem sofreu a metamorfose nesse tempo em que estive enfiado num casulo, o mundo, as pessoas, ou eu mesmo? Rio diferente, penso um pouco diferente, acho eu, sei lá, pode ser também um grande exagero. Mudam as identificações, e pelo menos sou capaz de ver que não fracassei tanto assim, que acertei em muitas coisas, e que investi energia naquilo que me dava prazer. Encarar erros, ou medos, para mim pelo menos, sempre foi bastante complicado. Eu temo, logo existo. É fácil racionalizar tudo, tantas vezes já escrevi isso aqui. Tantas vezes quis, com o poder da minha lógica, balançar o mundo inteiro e fazer com que ele me aceitasse, ou com que as coisas acontecessem exatamente do jeito que eu achava melhor. Para uma pessoa que é insegura, nada pior do que ter que se expor diariamente a centenas de outras pessoas que, a cada deslize seu, real ou imaginário, te questionam e buscam minar a sua autoridade. Pelo menos algumas coisas que aprendi "na rua" me ajudaram a lidar com seres humanos que se relacionam através da rasteira e da facada nas costas. Talvez ainda seja difícil para mim torna-me acessível (paradoxal, não?), mas uma hora, quem sabe, eu acerto o ponto. Um dia eu achei impossível conseguir fazer arroz, e um dia eu consegui aprender a dirigir um carro, ainda que apavorado pela idéia. Ser sozinho pode parecer uma opção fácil ou tranquila, pela segurança, mas talvez seja a opção menos tranquila das que temos disponíveis.

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