Especulações livres

8 de abr. de 2008

Novo "layout"


Andei brincando com o "layout" do blog. Nunca fui muito de fazer isso. Nem a minha casa decoro muito, mas sempre e tempo de mudar essas atitudes. Achei uma pintura do Rembrandt, com o tema de um pintor, um interessante comentario visual sobre as coisas que mais me empolgam na hora de escrever: nao imagens em si, mas representacoes, de todas as formas. De mim mesmo, filmes, a propria politica. Enfim, as tais especulacoes livres. Fiquei pensando que em alguns meses o blog completa 4 anos de existencia. Nascido em Sampa, o blog representa para mim esse periodo da minha vida as tantas coisas que pensei e experimentei por la. Quase tudo que escrevi aqui relaciona-se com os 4 anos otimos e terriveis que passei na cidade. Se eu nunca mais voltar a morar em Sao Paulo (e espero que esteja errado nisso), que fiquem essas lembrancas aqui daquele tempo.

[imagem: Artista em seu estúdio, Rembrandt, 1629]

Politica


Hoje estava pensando nas politicagens da vida cotidiana. A necessidade de sorrir, ser simpatico, fazer sala, dar atencao, rir das piadas mesmo sem gostar, ligar para as pessoas, entre milhoes de coisinhas que, no final das contas, tomam boa parte do nosso tempo de vida. Fico pensando como essas coisinhas me irritam, drenam a minha energia, fazendo-me sentir um idiota sem personalidade as vezes. Por outras, penso que disso e feita a "boa vida", estar com pessoas que se gosta, sair um pouco do seu mundo e conhecer mundos diferentes dos seus, relacionar-se. O jogo de equilibrio entre essas duas coisas e que me faz pensar na canseira da vida. Para alguns nao e nada: ignoram quem nao gostam, nao ligam, nao fazem jogo nenhum. Eu sou daqueles mais fracos que preocupam-se com a opiniao alheia, e por vezes fico ao lado de alguem por lealdade, nem tanto por amizade. Se ha um pecado ai, nao saberia dizer, pois qual desses valores deve ser posto em primeiro lugar? Acho que ficar pensando nisso ja e sinal de que "fazer social" me preocupa mais do que a outras pessoas. Em todos os sentidos. O interessante e pensar que mudei de alguem que tinha medo de sair do quarto para conversar com visitas na sala, para uma pessoa bastante social, que as vezes fala demais. Talvez no fundo (e aqui vem mais uma daquelas finalizadas cliche para um texto como esse) eu continue aquele rapaz timido de outrora, mas que busca se proteger da sociedade sendo social ao extremo. Noto que sempre falo muito mais quando estou nervoso. Talvez o segredo seja criar uma zona de conforto para si mesmo, e defender essa zona de pessoas que nao contribuem para ela. Isso sem tornar-se um anti-social, mas apenas alguem que consegue ter os amigos que quer, sem forcar-se a ser amigo de todo mundo. E sem sentir culpa por isso. Ou seja, preciso de tratamento mental o quanto antes, por ficar me debatendo a respeito do obvio por aqui!

[imagem - "Emblemata Politica In Aula Magna Curiae Noribergensis Depicta por Peter Isselburg, 1617, Nüremberg, Alemanha. pp. 36 (Legenda: Minor esca maioris; Bilduntschrift: Um peixe maior comendo um peixe menor)= proverbio: 'Big Fishes eat small fishes', from a book of emblems - Livre d'emblèmes]

2 de abr. de 2008

Curriculo


Mais uma vez me vejo diante da necessidade de sair do conforto da minha cama para escrever (no passado seria rabiscar, bem mais romantico que teclar) coisas que me passam pela cabeca. Sobre curriculos amorosos, ja tive tantas conversas que perdi a conta. E para ser sincero, nunca gostei do meu proprio; aos ex-namorados, peco perdao! Nada pessoal contra ninguem, nao sinto-me satisfeito e comigo mesmo. Pessoas vem e vao, entram e saem da minha vida. O que se repete sempre e a minha incapacidade de entrega, de confianca de que aquilo pode um dia "dar em algo". A maneira mais facil de racionalizar essa suposta incapacidade de envolvimento, essa fobia de relacionamento, esse medo de entregar-se seria jogar a culpa na homofobia. E veja bem, caro leitor, nao se pode subestimar o estrago psiquico e social sofrido pelo jovem que, desde cedo aprendendo que seus desejos mais intimos sao "errados", "anti-naturais" e "vergonhosos", passa a incorporar a ideia de que ele simplesmente nao e bom o suficiente. Nao falo de mim, falo de qualquer jovem em qualquer lugar que tem que lidar com uma sexualidade divergente. Mas sem coolocar muito peso nesse fator particular, quais seriam entao as outras causas disso? Nunca fiz analise, entao na me vejo capaz de elaborar muito mais. Familia, amigos, passado, experiencias marcantes na infancia... Nao me interessam tanto as razoes, mas talvez discorrer um pouco sobre o passado. Dificil nao pensar no passado quando acabo de retomar contato com um dos meus relacionamentos mais marcantes. Uma pessoa com quem, hoje me dei conta, via-me capaz de estabelecer algum vinculo muito duradouro. Talvez tenha sido ele a unica pessoa com quem quis, de forma bem consciente, "casar", o que quer que isso signifique hoje em dia (pouco importa). Ate aqui, parece que vai tudo bem: pelo menos ja me pensei ao lado de alguem, mas uma analise mais profunda desse caso traz a tona a patologia de que havia falado anteriormente. Pois a pessoa em questao, como sempre soube, e hoje apenas confirmei, nunca viu nosso envolvimento nem como namoro. Nao passava de uma "amizade colorida", em termos mais correntes (ou nem tanto, ja estou ficando velho). A questao se coloca, portanto: por que uma das suas experiencias mais marcantes ocorreu com alguem que explicitamente, no passado e no presente, nunca quis envolver-se de fato com voce? A construcao de castelos nas nuvens, atividade existente desde sempre em mentes desvairadas, leva a esse tipo de situacao. Vive-se um intenso romance que nunca foi. E talvez nesse fato resida a resposta para a sua suposta incapacidade, caro jovem. Nao que voce tenha medo de envolver-se, nao que seja incapaz, nao que seja impossivel: mas a falta de realismo, de auto-estima e de percepcao do que esta ocorrendo a sua volta (na regiao externa ao vosso umbigo) nao ajudam em nada. Sempre fui critico, que fique claro, a reificacao do romance como algo bom em si mesmo. Sempre fui do tipo solteiro convicto, workaholic e obsecado com minha carreira. De fato, sabotei o unico relacionamento mais verdadeiro que tive (ainda que bastante conturbado) por que sentia-me preso e limitado nas minhas ambicoes (entre outras coisas que nao cabem aqui). E por que o unico relacionamento mais efetivo foi tao instavel e pouco satisfatorio? Por que a insistencia em envolver-se com pessoas que simplesmente "nao funcionam" com voce? Fico com medo ao rever meu curriculo: namoros instaveis, paixoes intensas e violentas com individuos completamente ausentes. Ha que ser algo mais que egoismo. Incapacidade de ouvir, de olhar para o lado, ou simplesmente falta de relaxar e viver? Com todas as minhas tentativas de "experimentar o mundo", fico com a impressao de que conduzi um enorme, longo e tortuoso experimento controlado. Ainda que sempre me visse como alguem a deriva, a procura de tutela, comeco a perceber que nao passo de um ditador enrustido. E de que escondo-me por tras de uma mascara de sinceridade exacerbada. Olhar para tras nao e a saida. Sempre e construtivo entender sua propria historia, e contextualiza-la no presente. Essa reconstrucao de uma narrativa de mim mesmo sempre me fez bem. Mas me preocupa, por vezes, a pobreza desse tal de "curriculo", que preciso sempre re-analisar. Ainda nao entendi por que virei um romantico profissional, mas nao me importa tanto mais tambem. Talvez seja a hora de parar de se precupar com essas coisas? Se fosse facil...

Total de visualizações de página