Especulações livres

31 de jan. de 2007

Pois e ne Kassab...

Mandou muito bem! Deveras respeitoso do chefe da cidade fazer piadinhas sobre um buraco que matou 7 pessoas, expondo a incompetencia de administradores como o Sr.! E isso ai, pelo menos o Sr. fez a piada para as cameras, e gracas ao Youtube todo mundo esta vendo!

Charge a distancia


29 de jan. de 2007

Verdades?


As vezes sinto que estou quase la, entendendo o que acontece, o que aconteceu, achando que vou recuperar o caminho que perdi, ou perder a ilusao de que existe um caminho e comecar a viver de fato... Mas me parece que quanto mais chego perto, mais a verdade me parece inescrutavel, complicada...
[imagem: A Queda de Icaro, Bruegel, 1558]

Jazz!

Hoje eu so queria postar essa musica, que achei por acaso no Youtube. Eu sempre me coloco para as pessoas como alguem que nao curte musica nem poesia. Alguem que prefere o silencio ao barulho, a solidao a companhia dos outros. Nada mais longe da verdade. Na verdade e mais facil defender-se dos outros atacando. No processo, perdem-se oportunidades e pontos de conexao, perdem-se pontes e muros se fortificam, ainda que totalmente imaginarios. Mas voltando ao Jazz: eu diria que, na minha concepcao de civilizacao, o Jazz figura como musica classica, por conta da sua origem e da sua sonoridade, de tudo que evoca em termos sociais e historicos, e das possibilidades que abre ao aleatorio ordenado. Numa civilizacao americana, da qual o Brasil ainda resiste em fazer parte, preso que esta ao escravismo e ao imperio, o Jazz figura como estetica e como etica, um tipo de beleza que aceita desconstrucoes sucessivas, somente para se fortalecer nesse mesmo processo. Aceitar o caos como parte integrante do ser. Claro, digo isso sem conhecer nada de Jazz, apenas de ouvir falar. Mas se eu fosse pintar um quadro do que seria essa civilizacao, que necessariamente nasce na America (pensada aqui no sentido amplo, e nao restrita ao Norte), eu certamente estaria escutando algum som parecido com esse. Na America por que somos bastardos de um estupro, um povo estuprando o outro, nao temos origem, somos aquilo que foi regurgitado do festim canibal promovido pelos europeus. Pois e, os pobres Tupis mal tiveram tempo de correr pro meio do mato, antes de serem devorados. Mas pelo menos eles, e todos que vieram aqui, deixaram sementes. Sementes que viajam com o vento e atravessam fronteiras, acabam dando frutos os mais bizarros. Talvez um dia eu consiga escrever exatamente o que eu quero dizer, unindo samba, funk e jazz, entre outras coisas, como aquela pintora mexicana, os muralistas daquele pais, e claro os manifestos modernistas brasileiros.
Ou talvez eu esteja apenas divagando ao som do Jazz, escrevendo o que vem a mente enquanto o meu Youtube fica ligado. Ta, talvez eu esteja e com saudades de ir no Sarayevo, beber, sonhar com quebras de fronteiras e com amorosas impossibilidades, e depois de totalmente inebriado tentar me perder de vez no resto de noite que resta na cidade.

26 de jan. de 2007

Primeval (USA, 2007)



Fui assistir a esse filme esperando um filme de terror dos mais apavorantes, por conta do trailer e da publicidade. Quando percebo que estou assistindo a um filme sobre a Africa, genocidio e os horrores do ser humano. Como ja li em outras criticas, a construcao da historia e muito bem feita, mesclando horror com politica e dramas pessoais. Teria tudo para ser um bom filme, mas... nao foi. No final das contas, misturam-se generos de forma mal-acabada e o todo nao convence nem como terror, nem como filme politico. O foco no monstro que aterroriza o vilarejo lembra um filme ao estilo Jurassic Park; logo depois ha a comparacao desse monstro com o monstro em forma humana que comanda com mao de ferro as mafias locais, que nao convence. Ainda que o filme consiga ser ironico, como na cena onde o personagem negro, depois de muito sofrer e escapar da morte varias vezes, diz o quanto a Africa e insuportavel, e que a escravidao foi otima por ter tirado o seu povo de la, a porcao inteligente da historia e subjugada e apagada pela edicao frenetica e pelas cenas de violencia (alias muito bem feitas). Uma oportunidade perdida, mas um roteiro que mereceria ser refilmado com mais cuidado, talvez.

Historia de uma batida

Para que curte historia da musica contemporanea, esse video (que eu achei por acaso no Youtube, como tanta coisa boa que eu curto sozinho ou coloco aqui) explica um pouco como um sample de 6 segundos de uma musica de 1969 deu origem a varias subculturas da musica popular mundial contemporanea. Comecando com o classico hip hop dos anos 1980 (ainda sub-avaliado pela sua importancia) passando pelo jungle e drum'n'bass dos anos 1990 (quem curtia sair nos anos 1990 lembra disso), entre tantas outras coisas, a analise e densa e bastante interessante. Nao resisti postar por causa de um video que postei anteriormente, a respeito do "batidao" do funk carioca, que faz uma analise parecida da historia de um sample, e do seu impacto na musica e na cultura atual. Esse e em ingles, mas vale a pena. Enjoy!

18 de jan. de 2007

A Encarnacao do Demonio (2007?)


Poucas coisas me fazem perder o sono. Geralmente, tenho insonia quando preciso acordar cedo, quando estou no meio de algum projeto importante ou intenso, ou quando estou matutando alguma coisa importante por qualquer motivo. Ontem, navegando pela internet, perdi o sono ao ver o seguinte link: http://imdb.com/title/tt0923683/

O novo filme de Mojica Marins, em producao, ja esta indicado no IMDb. Sera que dessa vez sai entao? Depois de tantas decadas, um filme novo do Mojica? Meus contatos no mundo do cinema me dizem que, contrario aos meus medos de que ele estaria sendo "direcionado", ou "pasteurizado" por artistas menores e com mais acesso a teta estatal e aos mecanismos de captacao e distribuicao, dessa vez Mojica tem a melhor equipe tecnica da sua carreira, e com total liberdade criativa. Como sou mineiro e desconfiado, vou esperar pra ver. So espero que o tal filme espere ate o final de setembro para ser lancado, por que ja estou empolgado!

17 de jan. de 2007

Cartas de Austin

[o texto a seguir, devidamente editado para proteger informacoes sensiveis as partes, e um email que acabei de mandar para um amigo virtual que mora no Brasil. Como gostei do texto, e ele me pos a pensar, resolvi publica-lo aqui. Um dia queria que esse texto fosse lido como um fossil, posto num museu, ao lado de outras coisas velhas e chatas que so fazem sentido para um historiador. O fato desse email continuar fazendo sentido, para mim e para tantos outros, o fato dele ainda tocar em questoes dificeis e sensiveis, diz muito sobre o quao patetico e o lugar reservado a sexualidade na nossa sociedade. Num momento da historia em que o mundo discute casamento e adocao de filhos por casais homossexuais, eu ainda me vejo conversando com inumeros amigos e conhecidos ainda lutando contra fantasmas internos, preconceitos tacanhos e magoas que se arrastam por vidas inteiras. Milhoes, bilhoes de palavras escritas por milhoes de pessoas que ainda tem que lutar contra algo tao extremamente saudavel e natural, um desejo que da sentido a toda a vida, e que mesmo sendo tao extremamente simples e belo continua sendo tao incessantemente perseguido e abafado. Nao somente pela sociedade, mas pelos proprios sujeitos. Nao que meus amigos sejam mediocres ou atrasados: mediocre e atrasada e a sociedade homofobica, que ainda permanece dominante no Brasil e em tantos outros lugares. Eu poderia escrever outras milhoes de palavras sobre isso, mas por hoje basta: que esse post seja apenas mais um daqueles momentos de desabafo, e que se torne velho e desatualizado o mais rapido possivel.]
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Caro ****
Texano e um bicho estranho... nevou 2 minutos e eles fecharam a cidade inteira! Bizarro e engracado. Ta zero graus hoje, muito gelo na rua, mas na TV parece que ta uma catastrofe... Enfim. Post todo dia muito raro, e com o fim das ferias voltam as moscas ao meu blog. Quanto ao seu irmao, entendo, ja tive isso com os meus, so melhorou depois que eu assumi publicamente que era gay. Nao e piada, e fato, e muita tensao sumiu de uma hora pra outra, por que eles nao tinham mais essa piada pra me jogar na cara, e eu nao tinha mais nada a esconder de ninguem entao nao me incomodava tao facilmente. E chato bater sempre nessa tecla, e eu sei o quao dificil e pra qualquer gay assumir-se publicamente, mas e TAO melhor do outro lado... Claro que cada um tem a sua hora, e nem toda familia aceita, entao esteja preparado para reacoes negativas se contar. Mas como voce ja e crescidinho, acho que nao morre de fome nem se toda sua familia te renegar. Aposto que, pelo contrario, vai emagrecer e ficar mais saudavel depois de tirar esse peso das costas. Sim, estou explicitamente te dando conselhos, mas sei que conselho, se fosse bom, nao era dado, era vendido. Bom fim de ferias!!"

6 de jan. de 2007

Stereo (David Cronenberg, Canada, 1969)



Quando assisti esse filme, encartado junto com o DVD de um outro filme obscuro de Cronenberg (Fast Company, de 1979), entendi um pouco melhor o que tanto me fascina no diretor. Ha varias coisas que poderiam ser ditas sobre o filme, como por exemplo: que ele antecipa grande parte dos temas que o diretor explora mais tarde, especialmente ligados ao corpo, a tecnologia e a sexualidade; o filme serve como exercicio preparatorio para filmes como The Brood, Scanners, Videodrome, The Fly e Existenz, na medida em que mistura uma narrativa cientifica, cruzamentos de fronteiras entre humanos e maquinas e entre identidades sexuais, e sugere temas como telepatia, mutacoes, cirurgias, psicologia, cibernetica, entre outros. O filme e costurado pela narrativa, sempre em off, que sugere um cientista relatando resultados de suas experiencias, ou lendo trechos de livros academicos sobre os temas citados. As imagens, filmadas num predio de arquitetura modernista, com muitas lihas retas e espacos vazios, mostram aparentemente os sujeitos das experiencias sendo relatadas, engajando em todo tipo de interacao, desde olhares, trocas de caricias, ou trocas telepaticas. Destaque para a historia de um especime que fura um buraco na testa no decorrer das experiencias, a fim de se livrar das pressoes que ele relata sentir na cabeca (tema explorado depois em Scanners); a analise das interacoes entre os telepatas, na qual o narrador sugere uma explicacao para a organizacao hierarquica entre os sujeitos (tambem retomada explicitamente em Scanners); e a analise da omnisexualidade como expressao da verdadeira sexualidade humana (tema que aparece de forma velada em varios filmes, desde Crash ate Dead Ringers, entre outros). A semelhanca com filmes de laboratorio confere ao filme um certo tedio asseptico, que foi exatamente o que agucou a minha curiosidade (a origem desse meu fascinio e um minsterio pra mim mesmo). A sucessao de trechos altamente teoricos pesa sobre o filme, e qualquer narrativa fica sugerida somente na sucessao de imagens e numa quase fortuita ligacao entre o texto lido e as imagens. O mais interessante e pensar que Cronenberg antecipa discursos altamente em voga no mundo academico hoje em dia, ao misturar cibernetica com carne, tecnologia e sexualidade. Nao a toa, seus filmes sao constantemente referenciados nos artigos academicos que discutem comunicacao e tecnologia atualmente.

3 de jan. de 2007

1 de jan. de 2007

2006 in a few confessions

  • Assistir a derrota alheia contextualiza de maneira dramatica a minha propria.

  • [Em outros termos, nem sempre conseguimos ter nocao dos nossos problemas, ou ausencia deles, ate que somos pegos no meio dos problemas alheios.]

  • Desde 2005 andava meio perdido. Perseguir objetivos sem saber o porque pode ser uma das causas. Disso decorre, talvez, que a retomada de um rumo depende de uma redescoberta do sentido das buscas, nao importa quais sejam elas.

  • E impossivel viver sem confiar, em alguma medida, nas pessoas. A desconfianca persistente leva a uma busca inutil de controlar todos os aspectos de uma dada situacao, uma tarefa tao inutil quanto impossivel. Alem disso, essa busca de controle total so pode levar a uma paranoia cronica, associada a um estresse constante. Saber em quem confiar e dificil, no entanto: requer pratica, ou tentativa e erro.

  • Ja nao tenho mais idade para algumas coisas. Isso nao quer dizer que a vida acabou; significa que cada etapa tem os seus encantos, defeitos e vantagens. Na teoria e facil. Dificil e refazer as transicoes a cada etapa, quando a sociedade espera que estejamos "prontos" depois dos 18, ou dos 21, ou dos 30.

Brasilia, 2007


Seria comico se nao fosse tragico...

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