Especulações livres

1 de jun. de 2012

Des-razão

Recentemente, tive um encontro muito próximo com um universo que me assusta profundamente: a perda da razão, do contato com o real. Não aconteceu comigo, mas com pessoas muito próximas de mim, e confesso que fiquei angustiado e profundamente abalado pela experiência. Sentir de perto esses eventos me fez pensar muito sobre o que nos amarra a um real, uma realidade (a banalidade como no post anterior), aquelas coisinhas que de tão naturais não pensamos muito a respeito: acordar, ir ao trabalho, lidar com gente chata, pegar ônibus, ver TV, dialogar com alguém. Enfim, a vida dita "normal". Como consegui articular depois de pensar muito, eu mesmo sou quase que amarrado, acorrentado à realidade; tenho dificuldades em me soltar, fantasiar, me deixar levar pelo acaso ou pelo inesperado. E quando a pessoa perde essas amarras, e não consegue voltar? Ao mesmo tempo em que me deu muita angústia pensar nessas eventualidades, pensei muito também sobre as minhas amarras psíquicas, que por um lado me seguram, e por outro também.

3 comentários:

Rodrigo disse...

Ficamos tão presos a essas banalidades repetitivas que esquecemos justamente o que é a vida: uma sucessão de fatos inesperados. Entretanto, somos o que nos propusemos a ser e, a partir daqui, precisarei entrar no terreno do "não-comprovável cientificamente" e da minha verdade subjetiva (que você é livre tanto para aceitar como refutar ou, ainda, encontrar o meio-termo).

Acredito que a realidade não é "desse mundo". O que vivemos é uma sucessão pré-programada de "sonhos" onde somos postos à prova a cada instante. A questão é: vamos sucumbir ao sonho pré-programado ou vamos reescrever nossa história?

E como se dá essa revisão? Não é fazendo exatamente o contrário (no seu caso, abraçar o "inesperado"). Já disse acima que os eventos já estão pré-programados. Você não pode fugir deles. Creio que o que precisamos fazer é aceitar o que somos e sermos os mais felizes possíveis INCLUINDO nossas "limitações", pois cada um ESCOLHEU ser do jeito que é. Você tem as suas amarras, então pare de desejar ser como aquele que abraça sem pestanejar o inesperado.

É como o Buda disse: a fonte do sofrimento está no desejo não satisfeito. Como você não pode sobrepujar sua programação, apenas aceitá-la, pare de desejar. Se você não tem o que desejar, você não terá porque sofrer por não ter alcançado seu desejo. Nesse ponto, queria ter a receita de bolo de como fazer isso, pois eu mesmo tenho que lidar com o meu conjunto de desejos não-satisfeitos. Às vezes eu consigo, às vezes, a "realidade" de que tenho que ter uma carreira bem-sucedida é jogada na minha cara. Quando vejo que não tenho e nunca terei essa tal carreira bem-sucedida, eu sofro.

Rodrigo disse...

São três verbos que causam o sofrimento: ter, ser e fazer.

Eu tenho que TER algo
Eu tenho que SER alguém
Eu tenho que FAZER alguma coisa

Quando você NÃO tiver que ter/ser/fazer NADA, acabou o sofrimento.

Homem, Homossexual e Pai disse...

a gente acaba sendo tão frágil não é? um "peteleco" e nossa vida muda! que bomque voltou a postar!

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