Especulações livres

13 de ago. de 2009

Guerra Globo vs. Record

Essa guerra recente entre empresas de comunicação é um sinal extremamente positivo do nosso amadurecimento democrático,e poderá ajudar a nossa muito incipiente cultura de liberdade de imprensa. Resta saber se, culturalmente e institucionalmente, o Brasil está preparado para esse choque de liberdade. Democracia é, por definição, uma institucionalização de conflitos como esse. Ou seja, através de conflitos entre grupos, ganham todos com regras mais claras, fiscalização mútua e imparcialidade. A liberdade de imprensa, assim, serve exatamente para que lados opostos tenham a chance de expor suas opiniões e que a melhor, no final, saia vencedora por comparação, por mérito. No Brasil, o conflito e a liberdade de imprensa ainda são vistos como "crise", "instabilidade" e "crise de governabilidade". Nossa cultura é fundamentada no consenso e no entendimento de líderes, sendo episódios de conflito aberto ou de competição livre meras encenações (como, por exemplo, votações no congresso que são sempre combinadas antes entre os partidos). Ainda estamos repletos de ranços institucionais da ditadura de 1964-1985 (deputados suplentes, falta de transparência, etc.). A atual crise do congresso (que se arrasta há décadas, sendo somente agora explorada pela mídia) e as crises na imprensa aparentam estar todas relacionadas à luta de poder do ano que vem, quando teremos a histórica eleição sem Lula, sem salvador da pátria, sem mocinhos e bandidos definidos de antemão. Como discuti nesse blog anteriormente, a eleição de Lula significou, a meu ver, uma chance de se experimentar a luta aberta pelo poder, algo ainda inédito na nossa jovem república. Agora estamos aprofundando esse conflito, e estamos sendo expostos às entranhas do poder tal qual ele é exercido de fato. Se vamos antingir alguma medida de democracia política real, será preciso atravessar essa turbulência e amadurecer nossas instituições. Ainda não aprendemos a colocar bandidos na cadeia (com exceção do proverbial ladrão de galinhas), nem a punir pessoas corruptas. Quando isso começar a acontecer, e quando nos acostumarmos com o revezamento de grupos como parte fundamental da democracia, aí sim poderemos alcançar melhorias mais significativas. Reproduzo abaixo um pouco do debate entre Globo e Record.

Reportagem da Globo sobre Edir Macedo:


Reportagem da Record ataca as Organizações Globo:

11 de ago. de 2009

De repente, o amor


Reproduzo abaixo uma pequena resenha que fiz do filme De repente, Califórnia (Shelter, USA, 2007), dirigido por Jonah Markowitz. A resenha sairá no próximo número da revista Mente e Cérebro.

O filme De repente, Califórnia foi uma das melhores surpresas que tive no cinema este ano, por diversos motivos. Sem maiores pretensões, a história consegue comover o espectador interessado numa bela história de amor. Zach, um jovem de classe média baixa dos EUA, vive com sua família e ajuda sua irmã que é mãe solteira. Enquanto luta para sobreviver, vive uma inconstante e morna relação com sua namorada. No seu tempo livre, explora seu talento artístico fazendo graffitti urbano e surfa com os amigos.

Ao conhecer Shaun, irmão de um amigo de infância, começa a descobrir um amor verdadeiro, contra seus mais arraigados preconceitos. A dificuldade em perceber seus sentimentos por outro homem são mostrados de forma sutil e sem caricatura: enquanto Shaun é gay assumido, Zach aprende lentamente a aceitar conscientemente algo que ele próprio não acha “normal”. Ao longo do filme, Zach consegue, ao aceitar sua sexualidade transgressora, reecontrar-se com si mesmo e perseguir seus sonhos de frequentar uma escola de artes.

Além de uma história otimista, na qual o amor consegue vencer as barreiras mais intransponíveis, o filme sugere uma singela lição de moral aos opositores dos relacionamentos homoafetivos e àqueles que ainda não suportam a idéia de legalizar as uniões civis e a adoção por tais casais. No filme, a irmã de Zach, claramente pouco talentosa para a maternidade, demonstra pouca preocupação com a idéia de constituir uma família. Além disso, ela espera do irmão que aceite o fardo de criar seu filho para que ela junte-se ao namorado numa viagem ao norte do país para ganhar dinheiro.

Zach, e também o espectador, ficam surpresos quando ela, ao suspeitar da orientação sexual do irmão, rejeita que seu filho, prestes a ser abandonado pela mãe, seja criado por um homossexual! O dilema é claro e bem atual: é mais importante manter intactas as barreiras culturais, institucionais e legais que separam os homossexuais do resto da sociedade, ou devemos avaliar esses casais de forma semelhante a quaisquer outros, especialmente na questão da sua capacidade de criar e manter uma família? O velho debate entre natureza e cultura é recolocado, em novos termos.

O filme supreende por ser um dos poucos filmes lançados comercialmente no qual o personagem homossexual não morre ou é acometido por uma tragédia no final. A lição moral contida na maior parte dos filmes, como bem revela o documentário O celulóide secreto de 1995, é a de que o personagem gay, lésbico ou não-heterossexual é condenado no final por seu “desvio”. Uma das lições que aprende-se nesses filmes, enquanto espectador, é a de que não existe felicidade possível na homossexualidade. Mesmo o enorme sucesso O segredo de Brokeback Mountain, tão apreciado como uma história de amor moderna, não foge ao padrão de punir com a morte o amor impossível.

Felizmente, essa tendência ensaia mudança, em filmes como De repente Califórnia. Sem ilusões, o filme trata com cuidado as dificuldades de aceitação da sexualidade numa sociedade homofóbica e machista; aborda o desejo crescente de homossexuais nos EUA (e ao redor do mundo) de sair da marginalidade e compor famílias; e sugere ao seu público que é possível, sim, encontrar felicidade no abandono do preconceito e na busca dos nossos sonhos, sejam eles quais forem.

3 de ago. de 2009

aos 33, quase 34...


... percebi que me tornei um covarde em muitos aspectos. Coisa que, aos 17, eu não era. Ah, e que talvez nunca tenha amado ninguém de fato (romanticamente falando). Será que solidão vicia?

15 de jul. de 2009

Interlúdio: Imagens da renascença portuguesa




Enquanto pesquisava para um artigo sobre representação do corpo, deparei-me com um texto sobre imagens do corpo em Portugal do século 16. Brincando no Google, descobri as inacreditáveis imagens de Francisco de Holanda (ou Francisco D'Olanda, 1517-1585). Publico aqui só para diversão mesmo. Achei as imagens maravilhosas, obscuras e sedutoras. Clique em cada uma para vê-las ampliadas.

Homenagem tardia

Eu sempre gostei da música dele, do jeito que ele cantava, nem tanto da suas coreografias. Depois de adulto, sempre admirei o seu talento inesgotável e a beleza da sua interpretação. Mesmo antes dele morrer, ficava um pouco triste ao ver vídeos seus cantando quando criança: me parecia uma violência fazer uma criança cantar daquela forma, com aquela energia, uma situação que é estressante até para um adulto. A forma pela qual ele aparentava se entregar à performance era linda, mas amedrontadora. Ficava imaginando que sugaram dele a energia vital muito cedo, pois parecia ser tão abundante... no final da sua vida, já era uma carcassa vazia, mesmo para quem não sabia (como quase ninguém sabia) que era viciado em drogas e tão cheio de sofrimento. Não fiquei chocado com a morte de Senna, muito menos dos Mamonas Assassinas. Não chorei por Renato Russo, Cazuza nem Cássia Eller. Nada contra essas pessoas, só não me tocavam. Fiquei chocado com a sua morte sim, pois gostava muito de muitas das suas músicas (não todas). Mas fiquei ainda mais assombrado com a sua força, o tamanho do seu sucesso. A sucessão de homenagens é inspiradora. Revela uma força que nem mesmo ele, imagino, podia pensar que tivesse. Do seu sofrimento, conseguia tirar forças para cantar e dançar. E tantas pessoas, como numa religião maluca, o seguiam mundo afora. Lotou 50 shows em poucas horas... Após a sua morte, e talvez ainda hoje, lidera as paradas de forma avassaladora. O seu tamanho amedronta, mas o que mais queria guardar são aqueles momentos que me tocaram especialmente, aquelas músicas que vou cantar para mim, para sempre.

Jackson Five; Blame it on the Boogie:


Com Diana Ross; Ease on Down the Road:

Cansaço


Eu estava até disposto a fazer um pouco de "querido diário" e falar da minha canseira atual. Cansado de várias coisas, por vários motivos. Daí bateu uma canseira maior ainda de escrever sobre isso, de revelar essas coisas aqui sem motivo aparente, por mero exibicionismo. Não tiro daqui o tipo de auto análise que eu conseguia (ou assim acreditava) no passado. Adoro escrever, mas não sei se curto exibir minhas entranhas. Quem lê isso aqui há tempos até já viu muito delas, confesso... Mas o point é, cansado. Muito. Não sei o que fazer com esse sentimento, mas enfim, deixo aqui registrado.

14 de jul. de 2009

Atuais de hoje


Fico morrendo de vontade de escrever sobre o que está acontecendo na política, mas é só pensar em começar que desisto... Não que falte assunto: a sucessão de denúncias da imprensa atual, de Sarney à Petrobrás, passando pelos atos secretos e pela "farra das passagens", renderia muitos posts e alimenta, aliás, diversos blogues mais interessantes do que este (com destaque para os blogues dos jornalistas Luís Nassif e Leandro Fortes. Aliás, agradeço sempre ao Berrando por me iniciar na leitura do Nassif.
Uma das coisas que vale a pena comentar é que toda essa briga política confirma algo que escrevi aqui, há algum tempo já, sobre a eleição do Lula. Naquela época, logo quando começou seu 1o governo, pensava que seria um banho de democracia ter um presidente de um grupo político diferente no poder. Poderíamos experimentar formas de democracia inéditas, como ter a mídia criticando e fiscalizando o presidente (e não somente sendo uma espécie de voz oficial); uma oposição que, tendo sido situação por tanto tempo, pudesse aprender a brigar na arena política e não mais resolver tudo por conchavos (mudando um pouco talvez o nosso presidencialismo imperial e nossas leis que abafam qualquer oposição democrática); e poderíamos experimentar viver numa sociedade na qual os conflitos políticos podem ser resolvidos dentro da institucionalidade democrática, e não através de golpes (geralmente de direita) ou guerrilha subversiva (na esquerda).
A situação atual realmente assusta, pela intensidade dos conflitos, que revela a pura inadequação das nossas leis e instituições ao exercício de uma democracia. Um poder legislativo inoperante e corrupto, um poder executivo hipertrofiado, e um judiciário que, no momento atual, incita a instabilidade (apesar de ter sido palco de momentos interessantes quando se pôs a legislar frente à inexistência de um congresso). Mas só assusta por ser o Brasil tão pouco acostumado à democracia. Como sempre digo, o Brasil vive democraticamente há muito pouco tempo, tendo sido colônia, depois império, depois uma república corrupta e inoperante entrecortada por dois períodos autoritários (Vargas e os militares). Somos de fato democráticos apenas desde 1988, e olhe lá. Culturalmente, somos acostumados à hierarquia, ao desmando e à apropriação privada do estado. Não lidamos bem com dissidência nem com liberdade de expressão, muito menos com a diversidade política e social.
A preguiça em escrever (apesar de tão longo post) sobre o dia a dia da política vem da realização, pessimista, de que talvez não estejamos prontos para uma democracia plena, a que se esboça atualmente. Pois é, costumo ser daqueles chatos que fica vendo problema quando tudo parece estar bem. E acho que agora, estamos ótimos: liberdade de opinião, intolerância com a corrupção, brigas políticas que estão revelando acordos ilegais formados há décadas atrás, briga legítima pelo estado dentro da lei. A sucessão de denúncias da imprensa, ainda que determinadas pela politização de certa parcela da mídia (anti-Lula), é excelente por abrir o jogo de diversos grandes esquemas de corrupção que, apesar de serem antigos, nunca foram focados. A visibilidade da corrupção hoje é sintoma de uma maior fiscalização, e não de um aumento da corrupção, como insiste em pensar tanta gente por aí.
Mas a pergunta que fica é: até quando determinados grupos vão assistir a essa democracia plena e assistir à sua hegemonia sendo dilapidada? Será que as camadas mais favorecidas, acostumadas a ganhar sempre, a terem o estado sempre ao seu dispor, estarão dispostas a abrir mão do poder que agora parecem estar perdendo? Será que chegaremos ao ponto de punir pessoas como políticos ou grandes corruptores, sem que isso determine alguma ruptura maior? Não sei. Mas fica aqui meu comentário lacônico, de alguém desanimado com a disposição das elites e de grande parcela da sociedade em lidar com as incertezas e disputas próprias de um regime democrático pleno... Tomara que eu esteja totalmente enganado!

3 de jul. de 2009

Atualizando


Para os que ainda lêem isso aqui (será que ainda tem alguém?), só postando algo para dizer que estou vivo, o blog vive, pelo menos na minha memória... Ando sem condições emocionais para escrever qualquer coisa que seja aqui. Foi uma fase difícil esse início de 2009: dois empregos, pouca grana, muitas mudanças, muita estrada entre Campinas e SP. Como de costume, muitas gripes, dada a minha instabilidade e minha sensação de insegurança. Infelizmente, por essas e muitas outras, deixei de fazer aquilo que mais gosto, ESCREVER. Parece que agora as coisas começam a melhorar: novo emprego, mais estabilidade, possibilidade de subir um pouco na carreira. Continuo desiludido com muita coisa: solteirice eterna, perene, aparentemente sem solução. Não sei, devo ter quebrado alguma coisa nas minhas viagens pros EUA e de volta pro Brasil, e não sei como nem onde mandar consertar. Quem sabe com a estabilidade, a coisa se regenera sozinha. A situação política do país só me deixa cada vez mais triste. Tudo bem, vejo muita coisa positiva acontecendo, mas meu contato recente com blogs políticos e a realização de que não há mais jornais confiáveis (na TV ou impressos) me tirou um prazer que eu tinha, a de acompanhar o noticiário. Agora, parece mais um jogo de detetive, tentando perceber as entrelinhas das posições políticas de cada veículo, de cada jornalista, buscando algum sentido no festival de nonsense da nossa vida pública. Como falei no post passado, o divertido de uns não é o divertido de outros: pensar em política, pra mim, sempre foi prazeiroso, e ando tendo boas conversas com algumas pessoas, mas é tudo muito desgastante. Ou, quem sabe, minha atual fase fechada, enclausurada em mim mesmo,"em-mim-mesmado", me leva a viver nesse mundo paralelo de intrigas políticas via internet... Acabo de ler no Mondo Paura que a Sessão Comodoro ainda está rolando... Que prazer imenso, e pensar que poderia ter ido, mas perdi...! Agora, de volta a São Paulo (será? espero), quem sabe posso retomar esse e outros prazeres que cultivei na minha última fase paulistana. Nossa, de repente, voltando a escrever aqui, um jorrar de lembranças, de outras fases desse blog. A ida aos EUA foi um grande hiato, uma pausa em tanta coisa, ainda que tenha sido um fast forward na minha vida profissional. Será que valeu o preço? Não sei, ainda estou pagando. Olhando para trás, tendo a pensar que foi exagerado o custo emocional da coisa toda. Porém... foi por causa dessa viagem que estou aqui de novo, com um bom emprego (ainda que temporário) e chances de bons empregos fixos... Difícil medir e calcular essas coisas. Bom, ainda bem que, depois de meses e meses, consegui fazer algo que antes fazia com muito mais desenvoltura: pensar sobre mim mesmo, rever coisas, tentar estabelecer algum diálogo com o universo. Fica aqui meu desejo que este seja um novo começo, de algo muito melhor.

21 de fev. de 2009

Mais notas de carnaval

Mais um pouco de política para divertir você, leitor, durante o carnaval. Sim, eu até tento me divertir, mas nem sempre o divertido de uns é o divertido de outros... Abaixo, entrevista ótima com Roberto Romano no UOL, falando sobre o "perene carnaval" que é a política brasileira.

19 de fev. de 2009

E a luta continua...

... bom, pelo menos na Califórnia.


Enquanto isso, no país do Carnaval... é Carnaval!! Fazer o quê, né?

10 de fev. de 2009

Isso é Brasil

A reportagem abaixo é menos o registro de um caso importante, e mais uma metáfora para parte dos problemas que impedem que o Brasil seja o tão desejado "país sério" que tantos de nós queremos. Uma prisão corriqueira, um motorista embriagado no interior do país. Um procurador do estado, preso enquanto dirigia bêbado, dá uma aula de como a parcela dominante do país (não todos, claro) trata o resto das pessoas, trata o país e exerce suas funções de estado. É uma aula a respeito da sociedade brasileira, infelizmente.

8 de fev. de 2009

Meme (?)

O Didi, do blog LiquiDIDIficador, me indicou para essa brincadeira, então vamos lá:

Regras do MEME "6 coisas, 6 links":

-Linkar a pessoa que te indicou.
-Escrever as regras do meme em seu blog.
-Contar 6 coisas aleatórias sobre você.
-Indique mais 6 pessoas e coloque os links no final do post.
-Deixe a pessoa saber que você a indicou, deixando um comentário para ela.
-Deixe os indicados saberem quando você publicar seu post.

1) Não acredito nessas bricandeiras, então vou quebrar a regra e não vou indicar mais 6 pessoas. Como admiro o Didi, vou fazer a brincadeira aqui, pelo menos parcialmente.
2) Quando chego bêbado, de balada, muitas vezes preciso tomar banho, ler jornal, comer, ler emails, entre outras coisas, até conseguir cair no sono.
3) Faz muito tempo que não sei o que é me apaixonar. Às vezes, penso que perdi as esperanças, mas outras vezes, penso que é o que eu mais quero no mundo.
4) Voltei a morar em MG, e descobri novamente todas as razões que me fazem querer sair de lá o mais rápido possível.
5) Tenho um preconceito enorme com pessoas que usam drogas como cocaína, coisa que antes não tinha. Desenvolvi depois de ver bons amigos meus viciados, estragarem suas vidas.
6) Já toquei piano, mas hoje em dia não sei nem ler partitura.

Didi, desculpe não levar a bricandeira adiante, mas é política da casa hahahaa
Bjs
PS: Por que a coisa se chama "meme", alguém me explica?

12 de jan. de 2009

Da negação à autosabotagem


Acho espantosa a habilidade que algumas pessoas possuem, a de ignorar coisas, agir como se nada estivesse acontecendo quando o mundo cai à sua volta, ou a simples capacidade de não dizer o que, em determinado momento, seria a única coisa plausível a ser dita. Tal capacidade talvez lhes garanta uma grande dose de paz em seu cotidiano. Entre o conflito e a negação, fazem a opção pela segunda e vivem felizes para sempre. Infelizmente, como em vários âmbitos da minha vida, nunca tive muita opção pela negação. Talvez por falha de caráter, acabo falando bem mais do que deveria, colocando o dedo sempre na ferida, atacando sempre pelo lado mais complicado, expondo-me em demasia. Como é fácil prever, paz de espírito não é meu forte o tempo todo, assim como minha vida não é a mais estável do mundo. Mas uma coisa eu posso afirmar: não vou precisar ficar contando ao meu analista sobre aquelas pessoas que recusei em confrontar a respeito disso ou daquilo; não vou ficar doente segurando coisas que não consegui dizer a quem quer que seja. Mais mundanamente, não vou ficar me perguntando mais se teria sido bom perseguir uma paquera com tal ou qual pessoa. Da minha lista de pessoas que eu poderia ter paquerado, mas não o fiz por diversos motivos, uma a uma estou descobrindo que realmente não havia nada possível de cultivar ali. Ou seja, lição de hoje: realmente vale a pena correr atrás daquela dúvida que fica te perseguindo. Será que julguei mal tal pessoa? Será que deveria ter dado a tal pessoa uma chance, e não dei? Será que há algo mal resolvido entre tal pessoa e eu? As perguntas não te trazem nada, apenas insônia e insegurança. Por outro lado, perseguir tais coisas até o seu desfecho final, seja ele qual for, traz uma paz bizarra, abre espaço no HD, numa metáfora computacional, para outros processos mais interessantes. Nada mais reconfortante do que descobrir que aquela pessoa, aparentemente legal, que você "deixara passar" sem saber por quê, realmente não tinha muito a lhe oferecer. Perceber que opções passadas, sobre as quais você não tinha muita certeza, eram de fato corretas, realmente acrescenta paz. A nova questão que se coloca é: o que fazer com o espaço livre no HD? Além disso, de forma mais auto-reflexiva: por que você se desautoriza tanto, a ponto de não confiar nas suas opções?

7 de jan. de 2009

Amigos, amigos...

Se tomarmos a média da minha vida até aqui, poder-se-ia dizer, com relativa segurança: nunca fui alguém de muitos amigos. Na verdade, sempre tive tendências extremamente anti-sociais. De uns anos para cá, no entanto, aparentemente venho conseguindo superar isso, pelo menos em aparência, e consigo socializar com relativa facilidade. Mais grave que isso: algumas pessoas me consideram simpático, a ponto de verbalizar isso! Nunca pensei que chegaria nesse ponto. Quem te viu, quem te vê, já diz o ditado. Ditados, aliás, não o são a toa (alguém sabe escrever isso, na nova grafia? Estou perdido!). Nesse reveillon, estive com um grupo de amigos, novos e velhos. Ou seja, rodeado de pessoas. Ao mesmo tempo, nas minhas andanças, sinto-me cada vez mais distante de antigos e (outrora) queridos amigos. Não propositalmente: mas devido a uma falta de comunicação, ou até uma falta de vontade de ligar para determinadas pessoas. Daí, já vem o comentário de praxe, obrigatório: "calma, as pessoas mudam, você muda. Algumas amizades perdem sentido, outras o ganham, isso é normal". Sim, estou um tanto cansado com esse papo de "curso normal das coisas". Eu sempre fui alguém que fiz de tudo para criar minha própria história, desenhar meus próprios caminhos, inventar minhas próprias regras. Não confunda isso, caro leitor, com rebeldia: longe de ser rebelde, aceito-me cada vez mais como uma espécie de conservador (num sentido vago que não cabe destrinchar aqui). Trata-se de uma vontade imensa de viver a vida não como outros a querem para mim, mas como eu mesmo a desejo, apesar de quaisquer impedimentos. Acho que, hoje em dia, já um tanto cansado de guerra, sinto saudade dos tempos em que eu conseguia, em alguma medida, fazer o que acabei de descrever acima. Parece-me que, atualmente, ao invés de impor-me ao mundo, deixo cada vez mais que este imponha-se a mim. Vivo vagando, dando risadinhas bem educadas, compondo sorrisos na hora certa, escolhendo roupas que não incomodem, tentando ser adequado. Será que o curso natural das coisas é esse? Um inevitável esgotamento das nossas vontades criativas? Recuso-me a acreditar em tamanha infâmia! O que aconteceu com você afinal? Para onde foram as amizades profundas, a paixão desmedida, o cavalgar impetuoso, a explosão do amor? O que me resta são pessoas confiáveis, estáveis, previsíveis? Será a previsibilidade algo ruim em si? Não necessariamente... mas, com certeza, nem todos precisamos lidar com ela. Mas... mesmo após esse divagar insensato e um tanto sem sentido, como explicar o afastamento daquelas pessoas as mais explosivas, as mas imprevisíveis, as que mais te marcaram? E que também te machucaram? Estaria eu/você acometido com um medo da vida? Um medo da dor? Seria a imprevisibilidade algo assim tão ruim? Onde entra o perigo na sua equação? Pausa. Lendo o que escrevo, vejo-me uma pessoa sem rumo, preso em falsos dilemas, incapaz de caminhar adiante. Presa, como tantas vezes, do excesso de raciocínio (pois o raciocínio, em si, nada tem de ruim; mas qualquer excesso, como diria a minha vó... ah os ditados!) Esse estar sem rumo, então, resume a minha existência atual? O que é um RUMO afinal? E por quê tamanha necessidade de definí-lo? Por que a incapacidade de curtir o fluxo das coisas? O FLUXO não seria, ele próprio, uma espécie de condição distinta, na qual você se encontra? Como, aliás, definir rumo, sem descrevê-lo como fluxo, em direção a algo? A consciência da sua incapacidade de prever determinadas coisas, talvez, traga insegurança existencial, ontológica... Mas a falta de grana e de sexo fazem a mesma coisa. Quem é o maior culpado então? E como reencontrar o rumo dessas coisas? Amigos? Amores? Não me faltam amigos, eu acho. Aliás, sinto que nem dou a atenção devida aos que tenho, que dirá ter tempo de fazer ou buscar novas amizades. Mas... e a nostalgia da ligação intensa com pessoas que, bem ou mal, compartilhem profundas convicções sobre a vida, que vão além de gostar das mesmas séries de TV ou do mesmo tipo de comida? Estaria eu querendo demais da vida? (Por quê, aliás, precisamos comer tanto?) Rumo... como dizem alguns, quando menos esperamos, o rumo acaba nos encontrando, e não o oposto. Que assim seja. E continuo na espera, ironicamente!

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