Especulações livres

15 de jul. de 2009

Interlúdio: Imagens da renascença portuguesa




Enquanto pesquisava para um artigo sobre representação do corpo, deparei-me com um texto sobre imagens do corpo em Portugal do século 16. Brincando no Google, descobri as inacreditáveis imagens de Francisco de Holanda (ou Francisco D'Olanda, 1517-1585). Publico aqui só para diversão mesmo. Achei as imagens maravilhosas, obscuras e sedutoras. Clique em cada uma para vê-las ampliadas.

Homenagem tardia

Eu sempre gostei da música dele, do jeito que ele cantava, nem tanto da suas coreografias. Depois de adulto, sempre admirei o seu talento inesgotável e a beleza da sua interpretação. Mesmo antes dele morrer, ficava um pouco triste ao ver vídeos seus cantando quando criança: me parecia uma violência fazer uma criança cantar daquela forma, com aquela energia, uma situação que é estressante até para um adulto. A forma pela qual ele aparentava se entregar à performance era linda, mas amedrontadora. Ficava imaginando que sugaram dele a energia vital muito cedo, pois parecia ser tão abundante... no final da sua vida, já era uma carcassa vazia, mesmo para quem não sabia (como quase ninguém sabia) que era viciado em drogas e tão cheio de sofrimento. Não fiquei chocado com a morte de Senna, muito menos dos Mamonas Assassinas. Não chorei por Renato Russo, Cazuza nem Cássia Eller. Nada contra essas pessoas, só não me tocavam. Fiquei chocado com a sua morte sim, pois gostava muito de muitas das suas músicas (não todas). Mas fiquei ainda mais assombrado com a sua força, o tamanho do seu sucesso. A sucessão de homenagens é inspiradora. Revela uma força que nem mesmo ele, imagino, podia pensar que tivesse. Do seu sofrimento, conseguia tirar forças para cantar e dançar. E tantas pessoas, como numa religião maluca, o seguiam mundo afora. Lotou 50 shows em poucas horas... Após a sua morte, e talvez ainda hoje, lidera as paradas de forma avassaladora. O seu tamanho amedronta, mas o que mais queria guardar são aqueles momentos que me tocaram especialmente, aquelas músicas que vou cantar para mim, para sempre.

Jackson Five; Blame it on the Boogie:


Com Diana Ross; Ease on Down the Road:

Cansaço


Eu estava até disposto a fazer um pouco de "querido diário" e falar da minha canseira atual. Cansado de várias coisas, por vários motivos. Daí bateu uma canseira maior ainda de escrever sobre isso, de revelar essas coisas aqui sem motivo aparente, por mero exibicionismo. Não tiro daqui o tipo de auto análise que eu conseguia (ou assim acreditava) no passado. Adoro escrever, mas não sei se curto exibir minhas entranhas. Quem lê isso aqui há tempos até já viu muito delas, confesso... Mas o point é, cansado. Muito. Não sei o que fazer com esse sentimento, mas enfim, deixo aqui registrado.

14 de jul. de 2009

Atuais de hoje


Fico morrendo de vontade de escrever sobre o que está acontecendo na política, mas é só pensar em começar que desisto... Não que falte assunto: a sucessão de denúncias da imprensa atual, de Sarney à Petrobrás, passando pelos atos secretos e pela "farra das passagens", renderia muitos posts e alimenta, aliás, diversos blogues mais interessantes do que este (com destaque para os blogues dos jornalistas Luís Nassif e Leandro Fortes. Aliás, agradeço sempre ao Berrando por me iniciar na leitura do Nassif.
Uma das coisas que vale a pena comentar é que toda essa briga política confirma algo que escrevi aqui, há algum tempo já, sobre a eleição do Lula. Naquela época, logo quando começou seu 1o governo, pensava que seria um banho de democracia ter um presidente de um grupo político diferente no poder. Poderíamos experimentar formas de democracia inéditas, como ter a mídia criticando e fiscalizando o presidente (e não somente sendo uma espécie de voz oficial); uma oposição que, tendo sido situação por tanto tempo, pudesse aprender a brigar na arena política e não mais resolver tudo por conchavos (mudando um pouco talvez o nosso presidencialismo imperial e nossas leis que abafam qualquer oposição democrática); e poderíamos experimentar viver numa sociedade na qual os conflitos políticos podem ser resolvidos dentro da institucionalidade democrática, e não através de golpes (geralmente de direita) ou guerrilha subversiva (na esquerda).
A situação atual realmente assusta, pela intensidade dos conflitos, que revela a pura inadequação das nossas leis e instituições ao exercício de uma democracia. Um poder legislativo inoperante e corrupto, um poder executivo hipertrofiado, e um judiciário que, no momento atual, incita a instabilidade (apesar de ter sido palco de momentos interessantes quando se pôs a legislar frente à inexistência de um congresso). Mas só assusta por ser o Brasil tão pouco acostumado à democracia. Como sempre digo, o Brasil vive democraticamente há muito pouco tempo, tendo sido colônia, depois império, depois uma república corrupta e inoperante entrecortada por dois períodos autoritários (Vargas e os militares). Somos de fato democráticos apenas desde 1988, e olhe lá. Culturalmente, somos acostumados à hierarquia, ao desmando e à apropriação privada do estado. Não lidamos bem com dissidência nem com liberdade de expressão, muito menos com a diversidade política e social.
A preguiça em escrever (apesar de tão longo post) sobre o dia a dia da política vem da realização, pessimista, de que talvez não estejamos prontos para uma democracia plena, a que se esboça atualmente. Pois é, costumo ser daqueles chatos que fica vendo problema quando tudo parece estar bem. E acho que agora, estamos ótimos: liberdade de opinião, intolerância com a corrupção, brigas políticas que estão revelando acordos ilegais formados há décadas atrás, briga legítima pelo estado dentro da lei. A sucessão de denúncias da imprensa, ainda que determinadas pela politização de certa parcela da mídia (anti-Lula), é excelente por abrir o jogo de diversos grandes esquemas de corrupção que, apesar de serem antigos, nunca foram focados. A visibilidade da corrupção hoje é sintoma de uma maior fiscalização, e não de um aumento da corrupção, como insiste em pensar tanta gente por aí.
Mas a pergunta que fica é: até quando determinados grupos vão assistir a essa democracia plena e assistir à sua hegemonia sendo dilapidada? Será que as camadas mais favorecidas, acostumadas a ganhar sempre, a terem o estado sempre ao seu dispor, estarão dispostas a abrir mão do poder que agora parecem estar perdendo? Será que chegaremos ao ponto de punir pessoas como políticos ou grandes corruptores, sem que isso determine alguma ruptura maior? Não sei. Mas fica aqui meu comentário lacônico, de alguém desanimado com a disposição das elites e de grande parcela da sociedade em lidar com as incertezas e disputas próprias de um regime democrático pleno... Tomara que eu esteja totalmente enganado!

3 de jul. de 2009

Atualizando


Para os que ainda lêem isso aqui (será que ainda tem alguém?), só postando algo para dizer que estou vivo, o blog vive, pelo menos na minha memória... Ando sem condições emocionais para escrever qualquer coisa que seja aqui. Foi uma fase difícil esse início de 2009: dois empregos, pouca grana, muitas mudanças, muita estrada entre Campinas e SP. Como de costume, muitas gripes, dada a minha instabilidade e minha sensação de insegurança. Infelizmente, por essas e muitas outras, deixei de fazer aquilo que mais gosto, ESCREVER. Parece que agora as coisas começam a melhorar: novo emprego, mais estabilidade, possibilidade de subir um pouco na carreira. Continuo desiludido com muita coisa: solteirice eterna, perene, aparentemente sem solução. Não sei, devo ter quebrado alguma coisa nas minhas viagens pros EUA e de volta pro Brasil, e não sei como nem onde mandar consertar. Quem sabe com a estabilidade, a coisa se regenera sozinha. A situação política do país só me deixa cada vez mais triste. Tudo bem, vejo muita coisa positiva acontecendo, mas meu contato recente com blogs políticos e a realização de que não há mais jornais confiáveis (na TV ou impressos) me tirou um prazer que eu tinha, a de acompanhar o noticiário. Agora, parece mais um jogo de detetive, tentando perceber as entrelinhas das posições políticas de cada veículo, de cada jornalista, buscando algum sentido no festival de nonsense da nossa vida pública. Como falei no post passado, o divertido de uns não é o divertido de outros: pensar em política, pra mim, sempre foi prazeiroso, e ando tendo boas conversas com algumas pessoas, mas é tudo muito desgastante. Ou, quem sabe, minha atual fase fechada, enclausurada em mim mesmo,"em-mim-mesmado", me leva a viver nesse mundo paralelo de intrigas políticas via internet... Acabo de ler no Mondo Paura que a Sessão Comodoro ainda está rolando... Que prazer imenso, e pensar que poderia ter ido, mas perdi...! Agora, de volta a São Paulo (será? espero), quem sabe posso retomar esse e outros prazeres que cultivei na minha última fase paulistana. Nossa, de repente, voltando a escrever aqui, um jorrar de lembranças, de outras fases desse blog. A ida aos EUA foi um grande hiato, uma pausa em tanta coisa, ainda que tenha sido um fast forward na minha vida profissional. Será que valeu o preço? Não sei, ainda estou pagando. Olhando para trás, tendo a pensar que foi exagerado o custo emocional da coisa toda. Porém... foi por causa dessa viagem que estou aqui de novo, com um bom emprego (ainda que temporário) e chances de bons empregos fixos... Difícil medir e calcular essas coisas. Bom, ainda bem que, depois de meses e meses, consegui fazer algo que antes fazia com muito mais desenvoltura: pensar sobre mim mesmo, rever coisas, tentar estabelecer algum diálogo com o universo. Fica aqui meu desejo que este seja um novo começo, de algo muito melhor.

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