Especulações livres

22 de out. de 2006

Cansei de ser sexy




Faz pouco tempo que estou aqui, e tive a chance de ver uma banda que tenho achado legal desde que ouvi o som pela internet. Sinceramente, esse tipo de programa eu nao faria caso estivesse no Brasil (ou melhor, dificilmente faria). Afinal, nao sou do tipo que fica pesquisando sons e bandas, e raramente me animo a ir a qualquer show (excessao feita Stereolab, nao me lembro o ano; e ao Daft Punk, que perdi por nao estar em Sampa). CSS, pelo que parece, tem um certo publico gringo que ja conhece o som, e que gritava desesperadamente a cada musica; em constraste com o desanimo da maioria do povo, algo aparentemente normal em qualquer situacao de socializacao ou balada por aqui. Eu estava empolgado em ver uma banda brasileira nos EUA, poder conferir se o som e bom ao vivo mesmo ou se a coisa era somente hype de internet, e poder fazer um programa diferente de ir pro campus e me enfiar em leituras e no computador.

Em resumo, adorei o show. A vocalista segura a onda muito bem, tem carisma, e levanta o publico o tempo todo. Preferi o baterista do que as outras meninas, mas aquela profusao de guitarras e baixos deve ter alguma logica no resultado final que eu nao saberia explicar ou entender agora. Adoro Let's make love and listen death from above (link abaixo), e A la la, minhas favoritas desde antes de ver o show.



Momentos engracados foram quando, enquanto esperavamos o show comecar, o Dj colocou "Eu so quero e ser feliz, viver tranquilamente na favela onde eu nasci..." e alguma musica de forro tirado de algum CD de drag, tipo Silvetty Montilla, que deixou o publico absolutamente confuso e eu rindo muito da bizarrice da situacao, de ouvir aquilo naquele momento. Saldo final da experiencia: vai ser dificil conseguir amigos e socializar com as pessoas aqui, cujos codigos eu ainda to longe de entender. Afinal, como se faz amizade quanto ta todo mundo fazendo cara de blase e parado, ou conversando em rodinhas? Enfim, isso e apenas o comeco...

19 de out. de 2006

31, ou Cronicas texanas numero 0

Nao e o trigesimo primeiro post, mas sim o meu aniversario de 31 anos (ontem)... Sem acento, por que agora eu estou temporariamente baseado em Austin, capital do estado do Texas, Estados Unidos. Estar aqui tem um significado muito maior do que uma boa oportunidade de trabalho, ou estar nos EUA. Significa um reconhecimento depois de tentar umas 5 vezes trabalhar numa boa universidade brasileira, e ficar sempre para tras. Significa ter minhas pesquisas reconhecidas depois de levar muitos "naos" de todo tipo de agencia financiadora e professor universitario. Significa tambem, para mim, voltar ao trabalho que eu amo, depois de 1 ano nada brilhante numa universidade (SIC) do interior paulista. Significa estar vingado dos varios naos que levei de diversas escolas gringas, la nos idos da decada de 90. Significa reascender uma chama que parecia apagada de vez, depois de inumeros baldes de agua fria. Nao significa que meus problemas acabaram, a la Tabajara, ou que ficarei rico, ou que serei famoso, ou qualquer outra bobagem assim. Significa somente 1 ano de muito trabalho e pouco tempo para escrever sempre no blog... Mas isso nao e nada diferente do meu status quo antigo. Na medida do possivel, tentarei manter isso aqui vivo, pois representa um projeto meu muito querido. Fica dificil pensar sobre uma experiencia no momento mesmo em que voce a esta vivenciando, entao a reflexao mesmo sobre essa viagem provavelmente vira bem depois. Enquanto isso, eu conto aqui anetodas dos meus curtos meses na Gringolandia.

4 de out. de 2006

1989

Depois de alguma polêmica e muito bom papo com o André do Palace Hotel, fiquei pensando em dizer algumas palavras sobre como eu encarei os anos 1980, essa década tida como perdida culturalmente, economicamente, politicamente, etc. Para mim, foi realmente um tempo ruim: eu era um adolescente deprimido, solitário e que só ficava lendo (só podia dar merda depois). Minha solidão me levava a uma certa melancolia constante, ainda mais naquela idade em que estamos com sentimentos e hormônios à flor da pele; quem foi nerd e travado na adolescência sabe como é difícil ter que lidar com os amiguinhos sociáveis, bonitos, não-virgens. Parece filme B americano, mas é a triste verdade.

Músicas dessa época, portanto, carregam sempre uma certa carga negativa. Legião Urbana, Pet Shop Boys, The Cure, The Smiths, Rita Lee, Barão Vermelho... Músicas que, para tanta gente, marcou uma época de descobertas, de amores, de felicidades, para mim marcava uma certa incapacidade de sair da concha. Ainda que frequentar a noite Grind (A Lôca, SP) e ter namorado algumas pessoas fãs de grupos dessa época tenha mudado algumas referências, é claro que a melancolia adolescente prevalece como mais marcante. Algumas referências boas ficaram, no entanto, e permanecem até hoje. Uma das primeiras foi a Dance Music. Pump up the Jam foi um marco para muita gente que estava na noite nessa época, ainda que nas matinês. Eu ficava em casa, com vergonha de sair, mas dançava muito sozinho no meu quarto. Quando a música abaixo foi lançada então, eu tive aqueles momentos raros de revelação: havia visto algo maravilhoso e realmente bom.


Não é preciso comentar muito: a música é um clássico indiscutível das pistas. E ainda não é retrô.


Outra coisa que os anos 1980 nos deixaram é o legado do Hip Hop, ou Rap. O clipe abaixo, do Public Enemy, é um dos pontos altos desse primeiro impulso do rap nos EUA.



Era politizado, contestador, e o ritmo (para quem gosta) é irresistível. Essa vertente de rap, a meu ver, ainda não foi superada; hoje em dia, hip hop americano é o nicho dominante do mercado: rappers mostrando dinheiro, diamantes e muita bunda. Esse rap dos anos 1980, no entanto, era musicalmente legal, e politizado (como os Racionais são hoje em dia no Brasil, ou MV Bill).

Até onde eu sei, esse pessoal do rap inventou a nossa cultura dos samplers, e o fazia com uma maestria sem igual. Não sou nenhum especialista em cultura de massas, mas sei por experiência própria que o rap, hoje tão massificado, nessa época era motivo de certo escândalo. Letras explícitas, incitação à violência, críticas ao governo e à violência policial e o próprio escândalo de artistas negros terem sucesso junto a um público branco, num país racista como os EUA. Diferente do Brasil, né minha gente, que aceita a contestação cultural muito melhor (SIC). A demonização do hip hop e do funk no Brasil, hoje, soam familiares ao que ocorria com o rap nessa época.
Claro que eu curtia muita coisa dessa época fora desse padrão: Enjoy the Silence, I Touch Myself, e a eterna Madonna.

Mas só fui ter a minha perestroika pessoal nos anos 1990, que para mim são a verdadeira época de ouro. Até por isso eu curto tanto música eletrônica, com aquela nostalgia gostosa que alguns da minha idade sentem com músicas típicas dos anos 80. Para mim, o 1989, bicentenário da Revolução Francesa e ano em que o muro de Berlim caiu, meramente anunciou o começo das coisas boas na minha vida.

2 de out. de 2006

Extra: eleições 2006

Houve várias ironias do destino nessas eleições, e a democracia novamente demonstra que consegue surpreender sempre. Pois é, haverá segundo turno para presidente. O incrível é Lula e o PT perderem uma eleição, praticamente ganha no 1o turno, por causa de um dossiê (a já famosa "operação tabajara"), dando de bandeja o discurso sobre ética ao PSDB e ao PFL. Totalmente sem comentários, por que essas coisas me dão náusea só de pensar. São Paulo, a locomotiva do Brasil, estado que eu adotei como o lugar onde quero morar e crescer, garantiu o 2o turno para presidente. São Paulo elegeu também Maluf como deputado mais votado (posto ocupado por Enéas na eleição passada). Clodovil, a bicha homofóbica, foi o 3o mais votado do estado, da última vez que conferi. Sem comentários também. Pelo menos uma coisa muito boa aconteceu nessa eleição: O candidato do PFL (e do ACM) perdeu na Bahia, para o petista Jaques Wagner. Sobre Alckmin, agora que superou a fama de chuchu e perdedor, será o centro das atenções, colocando Lula na defensiva. A meu ver, apesar de grande parte da mídia ter sido extremamente tendenciosa (como sempre) contra Lula, a derrota maior é mesmo do PT, pela incompetência e pela capacidade de gerar fatos negativos contra si próprio. Caso perca a presidência, será em parte por ausência de mérito mesmo. Quem sabe assim aprende a lidar melhor com o cenário político nacional, e a não ficar fazendo o mesmo jogo da direita. Deus queira que o próximo presidente não nos jogue novamente na mesma merda em que patinamos desde 1994!

Total de visualizações de página