Especulações livres

27 de ago. de 2005

Mais corpos e política: a televisão



Ingrid, a 35-year-old accountant from Aurora, CO, is tired of feeling invisible because of her appearance. For years she's been passed up for jobs because of her looks, particularly her bad skin and wild and frizzy hair. Many times employers have scheduled job interviews with her, but once they saw her, they would turn her away and claim they weren't hiring. Ingrid's dream is to own an accounting consulting business. However, before she can help business owners get a handle on their finances, Ingrid wants an extreme makeover to help her get a handle on her overall appearance. *


Estava hoje assistindo a um programa de televisão, Extreme Makeover (exibido no Brasil pelo Canal Sony, e nos EUA pela rede ABC), e percebi que meu argumento sobre como Kalatozov e Cronenberg têm tudo a ver estava sendo encenado ali, diante de meus olhos. Ou seja, o encontro aconteceu, e acontece faz tempo, e está cada vez mais visível e importante. O programa parte de uma premissa bastante simples: algumas pessoas são escolhidas e o programa lhes paga cirurgias plásticas, para que mudem o seu visual, "melhorando" assim sua aparência. Num mundo cada vez mais dominado por imagens, a nossa aparência exterior é cada vez mais um aspecto fundamental da nossa identidade. Quem mora em grandes centros urbanos talvez sinta isso mais de perto, mas o fenômeno ocorre em toda a sociedade, e no mundo inteiro. Política. Quem não tem o visual correto, ou desejado, se vê claramente em desvantagem na sociedade. Prazeres. Muitas pessoas querem simplesmente brincar com seu visual, ou agradar aos seus maridos e esposas. A questão renderia muitos textos, e quero aqui apenas evocá-la, para me conter dentro do espaço limitado de um blog e do seu ritmo de leitura. Não me canso de assistir o programa: ver a emoção das pessoas quando os curativos são retirados é grotesco e, ao mesmo tempo, me toca, pois aquele tipo de felicidade é realmente extrema, a experiência como um todo é extrema, e ao mesmo tempo cada vez mais banal. Quando uma mulher se vê com um novo nariz, ou novos dentes, ou sem aquela barriga flácida, ou com novos seios. Ou aquele cantor falido que, após a sua transformação, se sente capaz de conquistar o mundo. Podemos analisar a visualidade do programa, como quando se apresenta a equipe de cirurgiões plásticos. Me faz lembrar jogos eletrônicos, quando os diferentes personagens são apresentados, ao lado sendo expostos as suas qualidades e super poderes. Ou mesmo propaganda política, quando vemos o rosto sorridente do candidato, ao fundo uma música emocionante. Bizarro ainda é o momento da "revelação" da pessoa transformada aos seus amigos e parentes: a pessoa surge por detrás de uma cortina, num palco ou escadaria, fazendo a típica "entrada triunfal". É o triunfo da imagem sobre o corpo? Do corpo e da imagem sobre a política? Da televisão sobre nossos corpos? Do homem sobre as suas limitações? Valores impressos na carne.


* [fonte do texto e imagens: site oficial do programa Extreme Makeover: http://abc.go.com/primetime/extrememakeover/bios/92366.html]

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