Especulações livres

3 de out. de 2005

Extra: The Boys From Brazil (Franklin Schaffner, EUA, 1978)




Acabo de ver esse filme, a respeito de um projeto para clonar Adolf Hitler e recriar o Reich a partir de um dos meninos... Fiquei espantado com a atualidade do debate ali feito: as técnicas de clonagem que conhecemos hoje funcionam da mesma forma como descrito no filme, numa seqüência assustadora. Um óvulo é retirado de uma doadora, e seu núcleo é destruído. Dentro desse óvulo implanta-se o material genético retirado de uma célula do organismo a ser clonado. Esse óvulo é então reimplantado na doadora, e se desenvolve até tornar-se uma cópia genética idêntica do doador da célula. As técnicas usadas para se criar a ovelha Dolly foram as mesmas: implantou-se o material genético de uma ovelha doadora adulta no óvulo de outra ovelha. Esse óvulo desenvolveu-se num clone da ovelha doadora do material genético.

Fascinante o cuidado com os detalhes no filme: havia uma amostra de 94 mães hospedeiras, todas inseridas em contextos familiares parecidos com aquele no qual cresceu Hitler. Mães amorosas, muito mais jovens que os pais; esses dominadores e sádicos. Isso tudo para que houvesse a maior probabilidade possível de que alguns desses Hitlers-mirins "vingasse" e adquirisse, além da composição genética do original, os seus traços de personalidade.

Outro fato interessante é a presença, no filme, de grupos judeus radicais, que são criticados pelo protagonista, um caçador de nazistas solitário, quase quixotesco. Esse personagem critica a adoção, por parte desses grupos, de táticas de terror, como uma aproximação entre eles e os nazistas. Ou seja, um filme futurista tanto na sua discussão científica, quanto nas crítics políticas.

De novo aquele meu tema recorrente: corpos e política. O cientista, explicando as técnicas de clonagem para o caçador de nazista, fica extasiado com a possibilidade de que alguém esteja clonando seres humanos. Imagine, diz ele, um mundo povoado por Mozarts, Picassos, gênios e artistas! Mas quem é clonado é Hitler, num programa secreto de ressureição. Fica a sugestão do anti-cristo, um Damien biotecnológico, tema recorrente em tantas análises do projeto Genoma. Recorrente na forma da crítica da imitação da criação por parte do Homem. que direito teríamos em brincar com a "criação"? Filmes como Gattaca, Código 64, e até alguns do Cronenberg, colocam essa questão filosófica, e cada vez mais prática: como regrar, imaginar, expressar, pensar o corpo manipulável? Ou a natureza manipulável? A quem cabe coordenar e ditar a ética desse novo mundo?

2 comentários:

Anônimo disse...

Clonagem é uma receita de bolo, qualquer geneticista - ou estudante de - das USPs da vida, sabe manipular oócitos. Ingênuo acreditar que não existam clones humanos ou procedimentos para clonagem em estágio avançado mundo afora. Principalmente em laboratórios particulares. Basta participar de uma SBTE, fazer amizades com as panelinhas e ouvir as fofocas.

Anônimo disse...

Pense em quantas aberrações não foram criadas até chegarem à "perfeição" da ovelha Dolly. Eu acho que os cientistas precisam de um limite imposto a eles, afinal ainda há muita coisa a ser feita, como encontrar a cura para doenças incuráveis, e se for mesmo necessário criar algo que possa substituir a vida, por que não pensar em algo relacionado a transplantes para salvar vidas ao invés de criar outras? é um assunto bastante complexo.
Marko, há um bom tempo não visitava seu blog, e aproveito pra dizer que gostei muito do seu comentário sobre o melhor filme de Bava.... BLACK SABBATH é magnífico, ultimamente consegui BLACK SUNDAY em dvd, novíssimo, por apenas R$ 10! Vale a pena pesquisar. Abraço!

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