Especulações livres

9 de mai. de 2006

A biologia e o sexo


A falta de tempo para textos originais continua. Enquanto isso, mais um texto para a minha coleção de notícias sobre a nova biologização da sexualidade. Esse movimento foi muito forte no final do século XIX, quando militantes do movimento homossexual utilizavam a biologia como arma para diminuir o preconceito. O argumento era de que o comportamento homossexual não era degeneração moral, mas algo inato e incrito na biologia; seus praticantes não tinham, portanto, nenhuma escolha. No decorrer do século XX esse argumento fundamentou, entre outras coisas, o holocausto nazista, o qual incluiu os homossexuais como categoria abjeta a ser exterminada eugenicamente. Após a segunda guerra, especialmente depois de Stonewall (1969) surge a categoria "gay", usada para legitimar um estilo de vida diferente, parte da fauna diversificada de uma sociedade urbana de consumo. Argumentos biológicos de toda ordem perderam legitimidade, sempre associados ao horror nazista e à eugenia. Contemporâneamente, no início do século XXI, a nova genética reanima argumentos biológicos para toda sorte de comportamentos humanos, inclusive a homossexualidade. Sem entrar no mérito dessas explicações, resta saber o uso social e político que tal ciência sofrerá nos próximos anos.
(Imagem: Homem seduzindo jovem; Atenas, século 6 A.C.)

Folha de São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006
Lésbica reage como homem a feromônios femininos

[DA REPORTAGEM LOCAL]
Lésbicas são mais versáteis que homossexuais masculinos quando se trata de reconhecer o cheiros de parceiros -ou melhor, com os supostos feromônios presentes neles, os hormônios da atração sexual que existem nos animais mas cuja importância para o ser humano ainda é debatida.
A mesma equipe da Suécia que divulgou no ano passado que o suor masculino excita o cérebro dos homens homossexuais do mesmo modo que o de mulheres heterossexuais anuncia agora que lésbicas também ficam excitadas com ele -mas também com a urina de mulheres.Mais especificamente, foram testadas substâncias candidatas a feromônio. Uma deriva do hormônio sexual masculino testosterona e é conhecida pela sigla AND e a outra, a EST, está relacionada ao feminino estrógeno.O possível feromônio EST é mais fácil de localizar na urina de mulheres, assim como seu colega AND é mais facilmente detectável no suor masculino.
Os autores do estudo são os mesmos da pesquisa do ano passado, Ivanka Savic, Hans Berglund e Per Lindström, do Instituto e da Universidade Karolinska, de Estocolmo. O novo artigo também foi publicado na revista da academia de ciências dos EUA, a "PNAS" (www.pnas.org).A descoberta básica do trio é que uma região do cérebro, o hipotálamo, fica ativa -acendendo luzinhas em imagens do órgão- quando homens cheiram o EST e mulheres cheiram o AND.
Foram examinados os cérebros de doze mulheres lésbicas, surpreendendo os cientistas com sua excitação pelas duas substâncias.
"Em contraste com as mulheres heterossexuais, as mulheres lésbicas processaram os estímulos de AND pelas redes olfativas e não pelo hipotálamo anterior. Mais ainda, ao cheirar EST, elas parcialmente compartilharam a ativação do hipotálamo anterior com homens heterossexuais", escrevem os autores no artigo.Estudos de DNA indicaram que seres humanos têm genes semelhantes aos que foram ligados a feromônios em animais, mas há dúvida sobre sua funcionalidade.
A identificação dos feromônios pelo organismo se dá principalmente em um órgão chamado vomeronasal, situado na cavidade nasal mas distinto do sistema olfatório principal. Mas há dados que mostram que tanto o órgão olfatório como o vomeronasal podem detectar feromônios.O órgão vomeronasal concentra os "receptores" para feromônios, produzidos por genes como os da família V1R.Um estudo por cientistas dos EUA e China identificou 187 genes V1R funcionais no camundongo, 102 no rato, 49 no gambá, 32 na vaca, 8 no cachorro -e apenas quatro no ser humano.
Para a maioria dos pesquisadores, a comunicação visual substituiu a comunicação por feromônio quando se trata da atração sexual humana. O novo estudo indica que existiria ainda um papel para o sistema olfatório na atração sexual, e que a homossexualidade poderia ter alguma base biológica.
(RICARDO BONALUME NETO)

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu só sei que esse povo vive no estica-e-puxa pra ver quem vence: a genética, a psicologia ou o comportamento??? É praticamente uma questão shakespeareana!!!!

Ale Lima disse...

Eu acho válido pesquisar o que atrai homens e mulheres a se interessarem pelo mesmo sexo, embora não sei qual a medida prática disso. Esses pesquisadores são gays ou lésbicas ? A minha preocupação é que tais pesquisas resultam em teorias absurdas sobre "vacinas" que curem a homossexualidade...Bjs

Anônimo disse...

Acabo de ler no site do 'terra' uma notícia q. fala de um casal q. vai ter um filho 'in vitro' mesmo podendo ter da forma tradicional, isso pq. buscaram selecionar o embrião p/ q. não haja risco dele carregar a herança genética da mãe, q. sofre de câncer.

Isso é assustador!!! Sugere a busca de se criar a raça perfeita, o q. pode ir muito além de evitar doenças, como o passado já demonstrou.

http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1002969-EI238,00.html

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