Especulações livres

1 de jul. de 2006

A noite

A noite é como um amigo íntimo, daqueles íntimos demais, daqueles que sabem demais sobre você. Ela é como aqueles amigos que escutam muito, que te conhecem de cabo a rabo, cada fragilidade, cada desejo contido, cada parte obscura, cada segredo. A noite é como aqueles amigos que você adora ter, por que te divertem, te contam piadas, são animados, te tiram do marasmo e da deprê. Mas, às vezes, esses amigos queimam teu filme, falam demais, passam do limite, te ofendem. Você, nessas horas, fica puto da vida, promete nunca mais conversar, mas dali a alguns dias está tudo resolvido. Afinal, é uma paixão, daquelas nas quais o amor se confunde com o ódio vezes demais para voltar a fazer algum sentido separadamente. Por ser tão íntima, a noite escuta, mas cobra seu preço: te leva para programas, muitas vezes furados, por nenhum motivo. Te leva a fazer merdas que você deseja esquecer, mas raramente consegue apagar totalmente da memória. Afinal de contas, essas merdas desenham o seu caminho pelo mundo, junto com todo o resto. Mas mesmo os amigos mais íntimos, de tempos em tempos, ficam distantes, o papo não flui como antes, as coisas ficam menos divertidas. Daí você tem é que achar outras turmas e descansar a cabeça da rotina antiga. Talvez aquele velho amigo volte a ser legal como antes; ou, talvez, você encontre com ele e sinta que algo mudou, irremediavelmente. Talvez o papo nunca mais seja legal, talvez passar tempo com ele seja cada vez mais um tédio. Mas você nunca se esquecerá dos bons tempos que passou ao lado dele, nem das milhões de coisas que aprendeu enquanto ria alto, de madrugada, embriagado, voltando pra casa à pé.

6 comentários:

Rodrigo disse...

Tb já bati altos papos com a madrugada, balançando na rede do meu antigo terraço. Pena que as muriçocas não deixavam que a conversa se extendesse por muito tempo.

Anônimo disse...

É durante a noite que mais tenho vontade de beber, fazer confissões, pensar na vida e, principalmente, fico mais suscetível a rir por qualquer coisa besta.

Ale Lima disse...

Excelente ! Excelente ! Esse texto me encantou pois é exatamente essa sensação que eu sinto no momento. À noite já deixou de ser mágica para mim, deixou de me trazer surpresas , deixou de ser amiga. Talvez surgiram outras prioridades , mas não me esqueço do passado e sem dúvida quero retomar esse relacionamento que já me trouxe muitas alegrias..Bjs

Anônimo disse...

Muito bom, hein?! Que viagem essa sua analogia, cara!!!!

Râzi disse...

Bem, pelo jeito as baladas já não te agradam como agradavam, né?
Ah, isso é normal!
Parte do nosso crescimento!
Acho que todo mundo acaba ficando brigado com a noite! Ela é uma amiga safada demais! Heheheheh!

Beijão!

EDUARDO OLIVEIRA FREIRE disse...

Emocionante texto e muito bonito.
http://dudu.oliva.blog.uol.com.br

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