Especulações livres

14 de jul. de 2009

Atuais de hoje


Fico morrendo de vontade de escrever sobre o que está acontecendo na política, mas é só pensar em começar que desisto... Não que falte assunto: a sucessão de denúncias da imprensa atual, de Sarney à Petrobrás, passando pelos atos secretos e pela "farra das passagens", renderia muitos posts e alimenta, aliás, diversos blogues mais interessantes do que este (com destaque para os blogues dos jornalistas Luís Nassif e Leandro Fortes. Aliás, agradeço sempre ao Berrando por me iniciar na leitura do Nassif.
Uma das coisas que vale a pena comentar é que toda essa briga política confirma algo que escrevi aqui, há algum tempo já, sobre a eleição do Lula. Naquela época, logo quando começou seu 1o governo, pensava que seria um banho de democracia ter um presidente de um grupo político diferente no poder. Poderíamos experimentar formas de democracia inéditas, como ter a mídia criticando e fiscalizando o presidente (e não somente sendo uma espécie de voz oficial); uma oposição que, tendo sido situação por tanto tempo, pudesse aprender a brigar na arena política e não mais resolver tudo por conchavos (mudando um pouco talvez o nosso presidencialismo imperial e nossas leis que abafam qualquer oposição democrática); e poderíamos experimentar viver numa sociedade na qual os conflitos políticos podem ser resolvidos dentro da institucionalidade democrática, e não através de golpes (geralmente de direita) ou guerrilha subversiva (na esquerda).
A situação atual realmente assusta, pela intensidade dos conflitos, que revela a pura inadequação das nossas leis e instituições ao exercício de uma democracia. Um poder legislativo inoperante e corrupto, um poder executivo hipertrofiado, e um judiciário que, no momento atual, incita a instabilidade (apesar de ter sido palco de momentos interessantes quando se pôs a legislar frente à inexistência de um congresso). Mas só assusta por ser o Brasil tão pouco acostumado à democracia. Como sempre digo, o Brasil vive democraticamente há muito pouco tempo, tendo sido colônia, depois império, depois uma república corrupta e inoperante entrecortada por dois períodos autoritários (Vargas e os militares). Somos de fato democráticos apenas desde 1988, e olhe lá. Culturalmente, somos acostumados à hierarquia, ao desmando e à apropriação privada do estado. Não lidamos bem com dissidência nem com liberdade de expressão, muito menos com a diversidade política e social.
A preguiça em escrever (apesar de tão longo post) sobre o dia a dia da política vem da realização, pessimista, de que talvez não estejamos prontos para uma democracia plena, a que se esboça atualmente. Pois é, costumo ser daqueles chatos que fica vendo problema quando tudo parece estar bem. E acho que agora, estamos ótimos: liberdade de opinião, intolerância com a corrupção, brigas políticas que estão revelando acordos ilegais formados há décadas atrás, briga legítima pelo estado dentro da lei. A sucessão de denúncias da imprensa, ainda que determinadas pela politização de certa parcela da mídia (anti-Lula), é excelente por abrir o jogo de diversos grandes esquemas de corrupção que, apesar de serem antigos, nunca foram focados. A visibilidade da corrupção hoje é sintoma de uma maior fiscalização, e não de um aumento da corrupção, como insiste em pensar tanta gente por aí.
Mas a pergunta que fica é: até quando determinados grupos vão assistir a essa democracia plena e assistir à sua hegemonia sendo dilapidada? Será que as camadas mais favorecidas, acostumadas a ganhar sempre, a terem o estado sempre ao seu dispor, estarão dispostas a abrir mão do poder que agora parecem estar perdendo? Será que chegaremos ao ponto de punir pessoas como políticos ou grandes corruptores, sem que isso determine alguma ruptura maior? Não sei. Mas fica aqui meu comentário lacônico, de alguém desanimado com a disposição das elites e de grande parcela da sociedade em lidar com as incertezas e disputas próprias de um regime democrático pleno... Tomara que eu esteja totalmente enganado!

3 comentários:

Mikaellis disse...

Essa tolerância é um reflexo de como o Brasil sofreu essa evolução descrita por você. O povo brasileiro nunca participou ativamente das grandes mudanças da forma política do Brasil. (Lembrando aqui uma ótima charge muito usada em vestibulares: dois nobres comemorando a independência e duas pessoas de classe baixa perguntando se independência era um novo produto inglês)
Tenho certo receio de falar de política também, mas principalmente por me achar muito novo e inexperiente para discutir certas coisas. Pretendo escrever muito sobre isso. Pessimismo? Tenho sim, uso de tempero algumas vezes.

Rodrigo disse...

"Berrando" tem nome, visse?

Anônimo disse...

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