Especulações livres

10 de ago. de 2006

Fotos


Finalmente eu tomo coragem, rasgo o papel e olho para aquele quadro. Não faz sentido aquilo, aquela coisa encostada na parede, meses a fio. Não suporto (mais) essa característica, de guardar-se: para quê? Para quando? Quando é a hora certa?? Não há, não existe. A vida é agora, tanta gente já disse.
Esse quadro é algo que eu mesmo montei, junto com meu irmão, numa brincadeira babaca de um dia desses de férias, cheio de horas inúteis, num momento de inspiração espontânea. Olhei as fotos: 1973. Sonhos que nasciam, projetos que começavam, sorrisos plenos de realização, esfuziantes, a própria esperança no futuro. As fotos, coladas num papel branco, começam a amarelar. As beiradas estão retorcidas, a cola já não funciona muito bem. As imagens estão velhas, escurecidas. Vê-las assim, perto uma da outra, sugere algo que já não existe mais: essa narrativa é a do passado. Seja na sua forma original, seja na sua releitura; uma história que eu mesmo criei. Na parede a coisa toda parece seca, estática, melancólica. Nada melhor para exprimir o que sobrou de tudo que aquilo poderia ter sido.
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Mas sem melancolias, pois aquilo tudo, o que poderia ter sido, foi, desabrochou, deu frutos. Eu sou parte disso, e isso é parte de mim. Folhas secam e caem, flores murcham. Mas a beleza que ali existia não morre da mesma forma. Transmuta-se; revive em mim, em nós.

4 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto.

Anônimo disse...

isso mesmo, a vida é mutante. como está, komentarista?

Ale Lima disse...

Se não foi do jeito que desejava , talvez tenhamos parte da culpa, pois a gente tem o poder transformador de todas decisões e escolher os caminhos ...Pena que essa sensação chegue tarde demais , depois que as oportunidades já se foram..Bjs

Rodrigo disse...

Seus pais se casaram em 73?

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